Book Review: Emma de Jane Austen

Resenhas

“Não tenho nenhum motivo que me levasse ao casamento. Se eu estivesse apaixonada, aí seria diferente! Mas nunca apaixonei, não é da minha índole nem da minha natureza. Acredito que nunca me casarei. E, sem amor, tenho certeza de que seria uma tola ao trocar o meu conforto por um casamento. Não preciso de fortuna nem de ocupação, muito menos de posição na sociedade. Acredito que pouquíssimas mulheres são, verdadeiramente, donas de suas casas como eu sou de Hartfield”.

AUSTEN, Jane. 1775-1817. EMMA / JANE AUSTEN, TRADUÇÃO E NOTAS ADRIANA SALES ZARDINI – São Paulo. Martin Claret, 2018. Página 99.

O livro “Emma” foi escrito por Jane Austen e publicado em 1815, após o clássico “Orgulho e Preconceito”. Na época, Austen publicou 2.000 cópias da obra com dinheiro do seu bolso a fim de não perder os seus direitos autorais e destinou 10% do lucro para o editor John Murray II.

Além disso, outra curiosidade, era que James Stanier Clarke, bibliotecário do príncipe regente da época (George IV), não só mostrou as obras de Austen para o príncipe, como também solicitou para que ela dedicasse a sua próxima obra a George IV, e essa obra foi “Emma”.

“Emma” nos conta a história de uma mulher de 20 anos (pelo menos no começo da história) chamada Emma Woodhouse. Ela é uma aristocrata, inteligente e possui bons modos para a época, mas nunca levou os seus estudos muito a diante, sempre aprendendo as coisas superficialmente. O livro também nos mostra uma Emma com bastante compaixão com as classes sociais mais baixas, mas, ao mesmo tempo, como uma mulher com forte apelo à riqueza – isto é: ela gosta dos pobres, desde que eles fiquem “no lugar deles”.

Ela é uma pessoa comum, com suas qualidades e defeitos. Emma vive com o seu pai (Sr. Woodhouse) em Hartfield, perto do vilarejo de Highbury. O pai de Emma é um senhor bastante dócil, mas também hipocondríaco. Ele se diz contra casamentos e lamenta muito que a irmã de Emma (a então Isabella Knightley) tenha casado jovem. Essa visão do pai de Emma a empodera, no sentido de que ela entende ser financeiramente independente e não precisar de um marido para “tomar” os seus bens, de acordo com a lei da época: pois cabe ao marido a administração dos bens da esposa.

Outra característica de Emma é de que ela sempre acredita ter razão em todas as situações. O leitor até acredita que ela realmente entende e sabe o que está fazendo, mas “a voz da razão” aparece que nos faz questionar os pensamentos de Emma. Essa “voz” é George Knightley (Sr. Knightley), irmão mais velho do cunhado de Emma e com quem ela se apaixona no fim do livro.

Um aspecto marcante da literatura de Jane Austen é a figura da irmã. A autora sempre mostrou a importância da sororidade pela figura das irmãs (por exemplo, as irmãs Bennet e Dashwood) e da melhor amiga que se torna uma “irmã” (a relação que Emma possui com Harriet, por exemplo). Harriet Smith é uma garota de classe inferior, jovem, bonita e não muito inteligente.

Emma logo se solidariza com Harriet e cuida dela “debaixo de sua asa”. Um dos objetivos de Emma é encontrar um bom marido para a menina, o que a mete em diversas situações constrangedoras e mal entendidos. Harriet chega na vida de Emma em substituição à Srta. Taylor, sua governanta e responsável por sua educação quando criança, que acabou casando com o Sr. Weston e se tornou a Sra. Weston (assim denominada até o fim do livro).

Um ponto interessante e que eu considero sempre importante a ser ressaltado é a crítica de Austen com relação à educação das mulheres na época. Na medida em que não era permitido que meninas fossem à escola, as meninas da classe alta tinham acesso a uma governanta em casa, que ensinaria tudo o que era necessário para uma “boa dama” saber, como estudo de idiomas estrangeiros, história, música e pintura. Enquanto os homens não eram cobrados de tais habilidades.

Com relação à educação das mulheres retratada acima, outra figura importante que representa a relação que Emma tem com os outros personagens do livro é com Jane Fairfax. Jane é uma garota jovem e altamente talentosa, que causa bastante inveja por parte de Emma – que possui seus altos e baixos ao decorrer no livro.

Outro ponto bastante curioso de Emma, com relação à outras obras de Austen, é que mostra os mais variados tipos de classes sociais, como: Emma Woodhouse (uma aristocrata), Srta. Bates (solteira que vive com a mãe), John Knightley (advogado) e Harriet e Sr. Martin (não possuem parentes importantes).

Caso tenha interesse na obra, segue um link especial da mesma edição do livro que li: Emma

Book Review: Os Sete Maridos de Evelyn Hugo – Taylor Jenkins Reid

Resenhas

“I’m under absolutely no obligation to make sense to you.”

Compre o livro nesse link: Os sete maridos de Evelyn Hugo

O ícone de Hollywood dos anos 50, Evelyn Hugo, escolhe a jornalista Monique Grant para escrever sobre a sua vida cheia de polêmicas. Todavia, a vida da Evelyn afeta a de Monique de maneira não apenas surpreendente, mas também trágica. A vida da Evelyn é bastante curiosa, complexa e envolve muitos temas como amor, traumas de infância, lealdade e amizade verdadeira. Não há espaço para maniqueísmo no livro, mas apenas o retrato de uma pessoa que parece que, de fato, existiu.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo é um livro que te envolve do começo até o fim. Quando você pensa que sabe o fim da história, a autora Taylor Jenkins Reid mostra um resultado totalmente diferente do esperado. É definitivamente um dos meus livros prediletos. Incrivelmente é o livro de estreia de Taylor Jenkins Reid e ela utilizou como inspiração a atriz Elizabeth Taylor e a também atriz Ava Gardner, que revelou detalhes da sua vida no livro “Ava Gardner: The Secret Conversations”. 

A obra foi indicada ao prêmio Goodreads Choice Award na categoria “Best Historical Fiction of 2017”, bem como teve seus direitos reservado para a Freeform e a Fox 21 Television Studios para a produção se uma série, cuja produção será feita por Jennifer Beals e Ilene Chaiken, e Reid Jenkins trabalhará como roteirista. 

Evelyn Hugo tem uma primeira infância bastante difícil com a perda prematura de sua mãe. Assim, ela passa a viver com o seu pai abusivo, mas sai de casa o quanto antes. Ela decide tentar uma carreira de atriz em Hollywood e se utiliza do seu corpo para seduzir os homens influentes do mercado e alcançar um lugar como atriz. 

Todos os casamentos foram de certa forma bastante importantes para a vida de Evelyn Hugo e eram totalmente o oposto do que era noticiado pela grande mídia da época. Nesse review irei me limitar a dois casamentos: com Don Adler e Harry Cameron. Por sinal, Harry é o meu personagem favorito e me apeguei bastante nele durante a leitura.

Don Adler era o homem perfeito de Hollywood: bonito e um ator bem sucedido. Evelyn chegou a de fato se apaixonar por Don, mas mal sabia ela que Don era um agressor e batia em Evelyn. Don era um homem muito prepotente e não aceitava que Evelyn tivesse uma carreira de sucesso tão boa ou melhor que a sua (o que, de fato, está acontecendo). Mas o período durante o casamento de Evelyn e Don é muito importante, pois é quando Evelyn conhece Celia St. James, uma atriz iniciante disposta a ser amiga de Evelyn. 

Evelyn sempre teve muito problemas em confiar nas pessoas devido às dificuldades que ela encontrou durante a sua infância. Ao meu ver, Evelyn sempre viu mulheres como rivais, pois nunca teve uma sensação de maternidade e/ou irmandade antes. Mas ela acaba aceitando o pedido de amizade de Celia. 

Mas por que a amizade com Celia se torna tão importante durante o livro? Porque, na amizade com Celia, Evelyn se descobre como mulher bissexual. Elas se apaixonam e, definitivamente, Evelyn a considera o amor da sua vida. Mas tal amor não seria aceito na sociedade daquela época e ainda elas jamais poderiam se casar por ser ilegal. 

Celia é, de fato, essencial durante a leitura do livro, mas o personagem que realmente acompanhou Evelyn durante toda a sua vida (e que eu consideraria como o amor da vida dela) é Harry Cameron. Ele e Evelyn se conheceram desde o começo da carreira dela e eles são melhores amigos desde então. 

Ele é um homem LGBT (não é possível saber ao certo, mas no livro entende-se que ele é gay) e é apaixonado por John. Em uma manobra muito inteligente, ele se casa com Evelyn e Celia se casa com John, sendo que Evelyn ficaria com Celia e Harry com John. No livro, Evelyn descreve “(…) And we all knew what we were. Two men sleeping together. Married to two women sleeping together. We were four beards. (…) Harry and John were in love. Celia and I were sky-high” (p. 233). E assim, eles vivem o melhor de suas vidas (com altos e baixos) e nasce a filha de Evelyn, Connor Cameron. 

Na minha opinião, Evelyn teve uma vida muito sofrida. Não quis dar muitos detalhes, pois faço questão que vocês leiam o livro e sintam o prazer que tive de lê-lo. Mas, o que me deixa mais triste é ver que ela foi a última a morrer de todos que ela conhecia e de toda a sua família (sim, desde o começo do livro dá para perceber que a Connor morreu antes da mãe). Eu sou uma pessoa chorona, mas esse livro foi um tanto especial para mim, pois nunca chorei tanto. 

A parte que mais emociona (sim, no presente, pois ainda não superei) é a morte do Harry. O amor que existiu na amizade deles foi muito especial e a sensação de perda que a Evelyn sentiu se transmite muito ao leitor. 

Book Review: Os Sonhadores – Karen Thompson Walker

Resenhas

Este livro é bastante interessante e se encaixa, em muitos aspectos, ao que vivemos durante o isolamento social/quarentena relacionado ao COVID-19. É uma ficção científica escrita pela estadunidense Karen Thompson Walker, publicada em janeiro de 2019.

O livro conta a história de uma cidade chamada Santa Lora, localizada no sudeste do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que é atingida por um vírus que faz com que as pessoas infectadas durmam por um tempo indeterminado. A história acompanha personagens que tinham como contato comum a universidade da cidade, isto é, professores, alunos e um funcionário da limpeza.

Ainda, o livro se enquadra no gênero “romance psicológico”. Esse gênero literário enfatiza na narrativa os motivos íntimos de cada personagem e não se prende aos condicionantes exteriores. Logo, o foco é em comportamentos que saem das memórias do inconsciente para o consciente de cada personagem. Exemplos bastante conhecidos por nós são “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Crime e Castigo” de Dostoievski, “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë e “São Bernardo” de Graciliano Ramos.

Todos os acontecimentos da história são extremamente bem estudados por Walker, como as medidas médicas a serem tomadas em caso de epidemia e a questão da interpretação dos sonhos. Mas acredito que, dentre os pontos que podem ser melhorados, está a forma com que a história é escrita, pois poderia haver um maior suspense e emoção no decorrer dos acontecimentos, em especial ao tratar dos sonhos de Rebecca com o seu filho.

O enredo começa nos contando um pouco sobre Mei, uma garota que divide seu dormitório na faculdade com a primeira vítima do vírus. Assim, acompanhamos todos os procedimentos de contenção da doença dentro do campus da faculdade por meio do psicológico e acontecimentos da vida de Mei. Paralelamente, existem outras três histórias: (i) Rebecca, uma estudante que contrai o vírus no início de sua gestação; (ii) Thomas Peterson, um funcionário da limpeza da universidade e interessado por teorias conspiratórias, que tenta proteger suas duas filhas Sara e Libby; (iii) Nathaniel, professor de biologia da faculdade, e seu parceiro Henry – que possui um sintoma contraintuitivo ao vírus, pois ele volta a falar após anos em coma; (iv) Ben e Annie, um casal que acaba de se mudar para Santa Lora com a sua filha recém-nascida, após conseguirem uma vaga como professores na universidade; e (v) Catherine, uma médica chamada para estudar o vírus.

A cidade é isolada em uma corrente sanitária e, aos poucos, os cidadãos infectados acordam. Entretanto, ocorre um incêndio no local em que as pessoas infectadas estão internadas, e Mei acaba morrendo por conta do incêndio. Eu interpretei a morte de Mei como a “desvantagem de ser invisível”, pois ninguém acabou lembrando de a socorrer desacordada. Até mesmo o seu amigo, Matthew, salva o bebê recém-nascido de Ben e Annie, mas não se lembra da amiga – o que me fez lembrar também de uma conversa que Mei e Matthew tiveram sobre critérios objetivos de preferência para salvar vidas, como a idade e a saúde. Logo, ele mantém o seu ideal e acaba salvando um bebê – cuja perspectiva de vida é maior que a de Mei.

Cada personagem tem uma reação diferente ao despertar do sono causado pelo vírus. Thomas Peterson sonha com acontecimentos que ele acredita serem premonições, Libby sonha com memórias que nunca viveu com a sua falecida mãe e Rebecca sonha que cuidou de seu filho por 40 anos e que já é avó, o que a faz despertar com a mente de uma senhora. Assim, ao fim do livro, revela-se que todos os que dormiram em Santa Lora, em decorrência do vírus, sonharam com as vidas que eles nunca viveram.  

Book Review: Things Fall Apart – Chinua Achebe (EN)

Resenhas

This review about the novel Things Fall Apart by Chinua Achebe is based on my reading, the historical context of the novel’s publication, and a text by Noshua Amoras de Morais e Silva (reference below in Portuguese).


Chinua Achebe (born on November 16, 1930, in Ogidi, in British Nigeria) was one of the best known African authors of the 20th century. Achebe is best known for his two notable works: Things Fall Apart and There Was a Country – A Personal History of Biafra. The main themes of his works are the prejudice that Western culture has concerning African culture and the effects of the European colonization of Africa.


What I believe is important about the author’s background for the analysis of the book is that Achebe was born in 1930, exactly 30 years before Nigeria’s independence as a British colony in Africa (October 1, 1960). Therefore, Achebe experienced Nigeria under British colonial rule and was brought up in the traditional Igbo culture. The Igbo people are one of the largest ethnic groups in Africa, with the majority of their population located in southern and western Nigeria. According to “Ecos da Leitura” of Tag Livros, there are trace elements of Igbos that date back more than 1500 years.


Things Fall Apart was published in 1958, when Achebe was 28 years old and tells us about the downfall of the Igbo culture after the arrival of European missionaries in Igbo’s land. The book is divided into three parts and its protagonist is a man called Okonkwo.


Okonkwo is a famous fighter of an Igbo community located in Umuofia. He is considered to have a “bad past” due to his dead father’s actions, however, Okonkwo managed to rise within the community. In the first part of the book, Achebe shows us the Igbo culture in several aspects: worship of ancestors, religiosity and even the position of women in the community.


According to Noshua Amoras, the first thing that falls apart for Okonkwo is when a child in the community dies by his gun. Per Igbo’s people’s culture, killing a clansman is a crime against the earth goddess. So, as a punishment, Okonkwo and his family had to move to Mbanta for seven years in exile. Mbanta is the clan of the protagonist’s mother.
In Mbanta, Okonkwo joined the clan leaders and they discussed European missionaries trying to contact other nearby communities and even building churches in their territories. Shortly thereafter, missionaries arrived in Mbanta and asked the referred local leaders for permission to build a church.


The leaders, in order to keep the missionaries away, authorized them to build the Church in land considered to be cursed. But, to make matters worse, the missionaries succeed on this cursed land and Okonkwo’s son Nwoye joins the missionaries.


According to Noshua Amoras, things do fall completely apart for Okonkwo when he returns to Umuofia and realizes that the white men had already settled in and built a church. Thus, Okonkwo lives with the missionaries in his community and notices how his culture was dying with the strengthening and impositions made by the church.


He tries to create a resistance to ban white men from his territory, but this does not work as he realizes that they do not have enough weapons to fight against the missionaries. Also, they consider that fighting against them would be the same to go to war with a part of their clan, as part of it was converted to the Christian religion.

Clique para acessar o noshua_amoras_-_notas_sobre_a_obra_o_mundo_se_despedaça_de_chinua_achebe.pdf

Book Review: O Mundo se Despedaça – Chinua Achebe (PT)

Resenhas

“O homem branco é muito esperto. Chegou calma e pacificamente com sua religião. Nós achamos graça nas bobagens deles e permitimos que ficasse em nossa terra. Agora, ele conquistou até nossos irmãos, e o nosso clã já não pode atuar como tal. Ele cortou com uma faca o que nos mantinha unidos, e nós despedaçamos.” (ACHEBE, Chinua, 1958 [2019], p. 198).

Um dos motivos pelos quais eu decidi criar um blog foi o espaço para poder discutir sobre livros. Aqui apresentarei um pouco do livro “O Mundo se Despedaça” de Chinua Achebe com base na leitura feita por mim, contexto histórico da sua publicação e um texto de Noshua Amoras de Morais e Silva (referência abaixo).

Chinua Achebe, nascido em 16 de novembro de 1930 em Ogidi, no Protetorado britânico da Nigéria, foi um dos mais conhecidos autores africanos de todo o século XX. Achebe é mais conhecido por suas duas principais obras: Things Fall Apart (“O Mundo se Despedaça”, em inglês) e There Was a Country – A Personal History of Biafra. Dentre os principais temas de suas obras, estão a depreciação da cultura africana pela cultura eurocentrica e os efeitos da colonização da África pelos europeus, os quais são o foco do livro que iremos analisar mais em frente.

O que acho importante sobre o background do autor para a análise do livro é que Achebe nasceu em 1930, exatamente 30 anos antes da independência da Nigéria como colônia britânica na África (1 de outubro de 1960). Logo, Achebe vivenciou uma Nigéria sob domínio colonial britânico e foi criado na cultura tradicional Igbo.

O povo Igbo é um dos maiores grupos étnicos na Africa, sendo que a maioria de sua população localiza-se no sul e oeste da Nigéria. De acordo com o Ecos da Leitura da Tag Livros, verifica-se que existem vestígios Igbos que datam de mais de 1500 anos.

“O Mundo se Despedaça” foi publicada em 1958, quando Achebe tinha 28 anos, e nos conta um pouco da desintegração da cultura Igbo após a chegada e missionários europeus. O livro é dividido em três partes e tem como protagonista um homem chamado Okonkwo.

Okonkwo é um famoso lutador do povo Igbo em Umuófia, com um passado ruim por conta de seu pai, mas que conseguiu se reerguer dentro da comunidade. Ele é considerado um homem de sucesso dentro da comunidade, pois possui três esposas e uma boa colheita em seu compound. Na primeira parte do livro, Achebe nos mostra com detalhes a cultura do povo Igbo em diversos aspectos: culto aos ancestrais, religiosidade e até a posição da mulher na comunidade.

De acordo com Noshua Amoras, a primeira rachadura do mundo de Okonkwo se dá quando uma criança da comunidade morre pela sua arma, sendo uma grande ofensa aos deuses da terra. Sendo assim, como punição, Okonkwo e sua família tiveram que se mudar para Mbanta por sete anos. Mbanta é o clã da mãe do protagonista.

Em Mbanta, Okonkwo participava das conversas com os líderes da comunidade. Nessas conversas, haviam comentários sobre missionários europeus tentando contato com outras tribos próximas e até construindo igrejas. Pouco tempo depois, os missionários chegaram à Mbanta e pediram permissão os líderes locais para a construção de uma igreja.

Os líderes, para afastar os missionários, autorizaram para que fizessem a Igreja em um local chamado Floresta Maldita, terreno que geralmente fazia com que as pessoas sofressem. E, para piorar a situação, os missionários não sofreram no referido terreno e o filho de Okonkwo, Nwoye, se junta aos missionários.

Segundo Noshua Amoras, o mundo de fato se despedaça para Okonkwo quando ele volta à Umuófia e percebe que o homem branco já havia se instalado no local e construído uma igreja. Assim, Okonkwo convive com os brancos em sua tribo e repara como a sua cultura estava morrendo com o fortalecimento da cultura europeia e imposições feitas pela igreja.

Ele tenta organizar uma resistência para expulsar os homens brancos de seu território, mas tal medida não vai para frente, pois o clã percebe que não tem armas suficientes para guerrear com as armas dos brancos e, não suficiente, guerrear contra os brancos seria a mesma coisa que guerrear com parte de seus irmãos, que acabaram se convertendo para a religião cristã.

Clique para acessar o noshua_amoras_-_notas_sobre_a_obra_o_mundo_se_despedaça_de_chinua_achebe.pdf

Book Review: A Pequena Sereia – Louise O’Neill

Resenhas

“Seu pai tem insistido em me chamar de “bruxa”. Este é simplesmente um termo que os homens dão às mulheres que não tem medo deles, às mulheres que se recusam à submissão” (p. 89)

#ad Acesse o link abaixo e garanta o livro no site da Amazon (sempre com os melhores descontos do mercado): A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões

Este review possui informações super importantes que podem ser consideradas como spoiler, mas não revelarei o fim da história.

Esse livro é uma releitura da história da Pequena Sereia, que ficou muito famosa por conta do seu filme da Disney. Essa foi a primeira releitura que li e a achei muito boa. Os tópicos abordados por Louise O’Neill são de grande complexidade e ela conseguiu criar um universo novo e atual para o cenário do filme da Disney. Estou utilizando o filme como base, pois não li o conto de Hans Christian Andersen. 

Achei incrível como muitos pontos (até sem sentido) da história original (filme), fazem mais sentido nessa releitura. Nessa versão, a princesa se chama Gaia e as sereias vivem sobre a monarquia absolutista do Rei dos Mares. Nessa monarquia, ele é o dono da verdade e faz uma grande alienação para toda a sua população no sentido de vender a ideia de que é o ser mais poderoso do oceano e que a economia está boa (digo economia, mas no livro há a menção de que existe fome nos arredores do palácio real, fato negado pelo Rei). O Rei dos Mares também mostra uma postura racista (ao meu ver, mais uma vez) e busca uma certa uniformidade na aparência da sua população.

Todos que contestam o Rei dos Mares será penalizado, mas não o livro não demonstrou como tal pena funcionaria. O único exemplo que temos é a morte da mãe da Gaia, então esposa do Rei dos Mares. Mas esse ponto será discutido mais em breve. 

Esse livro tem uma abordagem feminista bastante crítica, pois o reino do pai de Gaia é extremamente machista. O machismo fica evidente no momento em que as mulheres não são autorizadas a emitir opiniões e são limitadas a serem bonitas, apenas. Ainda, o sucessor do reino apenas poderá ser um homem. Os casamentos das filhas do rei são arranjados e os maridos escolhidos pelo próprio rei. De acordo com o seu pai, Gaia estava destinada a casar com um homem idoso, enquanto ela tinha apenas 15 anos. 

Um fato curioso desse universo é de que as meninas “se tornam mulheres” quando fazem quinze anos e são autorizadas a nadar até a superfície, sendo proibido qualquer contato com humanos. Há bastante medo dos humanos, pois acredita-se que a rainha (mãe de Gaia) morreu capturada por eles. Mas depois descobrem que não foi verdade.

Assim que fez quinze anos, Gaia decidiu subir até a superfície e avistou um grupo de jovens adultos (eles tinham cerca de dezoito anos) e se apaixona por um deles. O garoto se chama Oliver e tem uma namorada, o que deixa Gaia bastante decepcionada. Durante um naufrágio do barco em que os jovens estavam, um grupo de sereias que comem humanos (um tipo diferente de sereia, pois essas teriam origem híbrida) pretendiam matar Oliver, mas Gaia impediu sugerindo para que matassem a namorada do rapaz. Assim, Oliver foi o único sobrevivente do naufrágio. 

Bastante decepcionada com o noivado arranjado por seu pai (sendo o noivo um idoso super nojento), ela decide ir até o reino da Bruxa do Mal. Esse reino é relativamente próximo do reino do Rei dos Mares, mas o livro o descreve como um ambiente sombrio e assustador. A bruxa é uma sereia chamada Ceto. Ela é gorda e possui uma calda preta com diversas perólas (o que era considerado como uma ostentação entre as sereias e considerado impróprio pelo rei). 

Gaia pede para que Ceto a torne humana a fim de se livrar dos seus problemas no mar e se casar com Oliver (agora solteiro após a morte de sua namorada causada indiretamente por Gaia). Ceto explica que há renúncias nessa escolha e que a magia não sai de graça, mas mesmo assim Gaia aceita cortar a sua língua (e perder a sua voz) e sentir uma dor insuportável toda vez que andasse com as suas pernas novas. 

Assim que chega à terra firme, ela conhece Oliver e ele se mostra interessado por ela. Ele oferece moradia e a apresenta para sua mãe Eleanor. A Eleanor é uma empresária brilhante que sempre administrou o negócio da família, mas que precisou sempre da presença de seu marido por conta dos investidores machistas que não a ouviam. O marido de Eleanor morreu após se jogar no mar em busca da mãe de Gaia, quando ainda estava viva. Nesse ponto da história que descobrem que o pai do garoto era o motivo pelo qual a mãe da Gaia sempre ia à superfície. 

De todo modo, Gaia vive com Oliver e vê que o rapaz trata a sua mãe de maneira muito má e que ele é bastante mimado. Não suficiente, todos os dias as pernas de Gaia de deformavam cada vez mais e sangravam horrores. Em uma festa, ele troca Gaia por uma cantora chamada Flora e ela se sente traída. Flora tinha a voz de Gaia e ela descobre que a mulher é na verdade Ceto disfarçada. Ceto se disfarçou para salvar Gaia do destino cruel com um homem que não a ama (que a trocou na primeira oportunidade) e que não estaria à sua altura. Ceto não consegue desfazer a magia e sugere outras opções para Gaia, que nunca mais será a mesma…

Short Book Review: Love in the Time of Cholera – Gabriel Garcia Marquez

Resenhas

Love in the Time of Cholera by Gabriel García Marquez (“LTOC”) is the best true love story I’ve ever read. I recommend it for everyone interested in romances and also for all the true love believers. It is just amazing and it is a classic magical realist book (of course, as it is written by the genius Gabriel García Marquez). Magic realism is my favorite literary genre and I’d like to show you more information about it.

This literary genre was popularized by Latin American writers in the 1950s. The main characteristic of magic realism is the existence of fantasy elements in the real world. Unlike in fantasy novels, the magical events are presented as ordinary occurrences and the reader accepts the marvelous as normal and common. For example, in LTOC Fermina senses the flesh and blood presence of her dead husband, but then she goes about her day as normally as possible.

The story takes place in Cartagena, Colombia, and it tells the love story of Florentino Ariza and Fermina Daza. Florentino and Fermina fall in love at first sight, but Fermina’s father didn’t accept their relationship and she agrees to marry Dr. Juvenal Urbino, her father’s choice. However, things change after the doctor’s death…

Book Review: The Two Deaths of Quincas Wateryell – Jorge Amado

Resenhas

The Two Deaths of Quincas Wateryell by Jorge Amado is one of my favorites Brazilian books. This one in the photo is very special for me, because it belongs to my mother, who read it when she was at school.

It tells the story of what happens after the death of Quincas, a man that left this middle-class life and family to become a popular bum living in the slums of Salvador, Bahia. In the beginning of the story, Quincas’ street companions and his old family competes for his memory.

However, after Quincas’s friends are alone with his body, they supposedly hear Quincas talk and share a drink with him, moving the body out of the coffin and taking him out for a night on the town. During that night, Quincas’ friends decided to visit his girlfriend and Quincas himself, dead, gets involved in a fight.

When they finally arrived at a friend’s boat, a loud thunder appears and Quincas yells his last words, throwing himself into the sea and leaving this world in the way he always wanted (his second death).

Short Book Review: Frankenstein – Mary Shelley

Resenhas

Frankenstein by Mary Shelley, even though it was published in 1818, still concerns very common issues in our society, such as respect for differences, how “knowledge is power”, ethics in technologies and crimes


The story is an old classic and it tells how Victor Frankenstein, a hard-working scientist, gives life to an inanimate body (through unorthodox experiences) believing that such discovery will lead to further scientific advances. However, little did he know that he had created a monster that would get him into trouble


The most fascinating part of the book for me is when Frankenstein (the monster) learns how to communicate by observing a family through the window. He really understands what humans are like (he even read Sorrows of Young Werther by Goethe in order to teach himself how to read) and he is rejected when he tries to contact them, as they were afraid and did not see humanity within the monster itself. The creature believes that it has the right to happiness, as a living creature, and demands that Victor create a female partner like himself

Book Review: Trago Seu Amor em 3 Dias – Mel Geve

Resenhas

There isn’t an English version of this book, so I will review it in Portuguese: O meu companheiro desses primeiros dias de isolamento foi o “Trago seu amor em 3 dias” escrito pela minha amiga Mel Geve. O livro me fez relembrar momentos muito especiais de uns 4 anos atrás (acho que quando tinha a mesma idade da personagem principal – chamada Amélia). O formato do livro é muito bem pensado, pois imita o lambe-lambe, uma figura que aparece bastante no decorrer da leitura (tanto o tamanho físico quanto a ilustração).

A história é incrivelmente paulistana (com direito a rolês na Rua Augusta e Cervejarias Gourmet) e conta a história de amor entre Amélia e Theo, um casal que se conheceu em uma balada chamada Sobradinho.

No entanto, Amélia precisou ir embora mais cedo e acabou abandonando Theo no local. Desesperada, Amélia resolve ir atrás da Madame Zumba, que faz uma simpatia para atrair o Theo de volta aos braços da Amélia. Tal simpatia funciona, mas coloca Amélia em diversas situações engraçadas e difíceis.

O que gostei muito no livro é que tenta (com sucesso) explicar como funcionam as religiões de matriz africana (em especial, umbanda) e tirar todos os preconceitos que a sociedade brasileira possui com relação a este tipo de crença. Para tanto, a autora foi até templos e conversou com religiosos para escrever sobre o tema no livro.

Amélia é uma personagem incrível, empoderada e poderia ser qualquer uma de nós (tenho muitas amigas parecidas com ela). E ainda, percebi muitas partes do livro que refletem a própria autora, em especial quando trata de carreiras jurídicas, como com o Theo e Pipa. Gostei muito da leitura e indico para quem busca uma história de amor (bem paulistana) entre dois jovens.