Este livro é bastante interessante e se encaixa, em muitos aspectos, ao que vivemos durante o isolamento social/quarentena relacionado ao COVID-19. É uma ficção científica escrita pela estadunidense Karen Thompson Walker, publicada em janeiro de 2019.
O livro conta a história de uma cidade chamada Santa Lora, localizada no sudeste do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que é atingida por um vírus que faz com que as pessoas infectadas durmam por um tempo indeterminado. A história acompanha personagens que tinham como contato comum a universidade da cidade, isto é, professores, alunos e um funcionário da limpeza.
Ainda, o livro se enquadra no gênero “romance psicológico”. Esse gênero literário enfatiza na narrativa os motivos íntimos de cada personagem e não se prende aos condicionantes exteriores. Logo, o foco é em comportamentos que saem das memórias do inconsciente para o consciente de cada personagem. Exemplos bastante conhecidos por nós são “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Crime e Castigo” de Dostoievski, “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë e “São Bernardo” de Graciliano Ramos.
Todos os acontecimentos da história são extremamente bem estudados por Walker, como as medidas médicas a serem tomadas em caso de epidemia e a questão da interpretação dos sonhos. Mas acredito que, dentre os pontos que podem ser melhorados, está a forma com que a história é escrita, pois poderia haver um maior suspense e emoção no decorrer dos acontecimentos, em especial ao tratar dos sonhos de Rebecca com o seu filho.
O enredo começa nos contando um pouco sobre Mei, uma garota que divide seu dormitório na faculdade com a primeira vítima do vírus. Assim, acompanhamos todos os procedimentos de contenção da doença dentro do campus da faculdade por meio do psicológico e acontecimentos da vida de Mei. Paralelamente, existem outras três histórias: (i) Rebecca, uma estudante que contrai o vírus no início de sua gestação; (ii) Thomas Peterson, um funcionário da limpeza da universidade e interessado por teorias conspiratórias, que tenta proteger suas duas filhas Sara e Libby; (iii) Nathaniel, professor de biologia da faculdade, e seu parceiro Henry – que possui um sintoma contraintuitivo ao vírus, pois ele volta a falar após anos em coma; (iv) Ben e Annie, um casal que acaba de se mudar para Santa Lora com a sua filha recém-nascida, após conseguirem uma vaga como professores na universidade; e (v) Catherine, uma médica chamada para estudar o vírus.
A cidade é isolada em uma corrente sanitária e, aos poucos, os cidadãos infectados acordam. Entretanto, ocorre um incêndio no local em que as pessoas infectadas estão internadas, e Mei acaba morrendo por conta do incêndio. Eu interpretei a morte de Mei como a “desvantagem de ser invisível”, pois ninguém acabou lembrando de a socorrer desacordada. Até mesmo o seu amigo, Matthew, salva o bebê recém-nascido de Ben e Annie, mas não se lembra da amiga – o que me fez lembrar também de uma conversa que Mei e Matthew tiveram sobre critérios objetivos de preferência para salvar vidas, como a idade e a saúde. Logo, ele mantém o seu ideal e acaba salvando um bebê – cuja perspectiva de vida é maior que a de Mei.
Cada personagem tem uma reação diferente ao despertar do sono causado pelo vírus. Thomas Peterson sonha com acontecimentos que ele acredita serem premonições, Libby sonha com memórias que nunca viveu com a sua falecida mãe e Rebecca sonha que cuidou de seu filho por 40 anos e que já é avó, o que a faz despertar com a mente de uma senhora. Assim, ao fim do livro, revela-se que todos os que dormiram em Santa Lora, em decorrência do vírus, sonharam com as vidas que eles nunca viveram.