Há livros que não apenas informam… eles nos acompanham! Career and Family é um desses. Escrito por Claudia Goldin, vencedora do Nobel, este é um livro essencial para qualquer mulher com diploma universitário.
Goldin traça o percurso das mulheres ao longo dos últimos 100 anos, da entrada tímida nas universidades até o avanço no mercado de trabalho. A leitura revela, com dados precisos e histórias delicadamente entrelaçadas, como a igualdade formal de oportunidades ainda esbarra em desigualdades silenciosas. A principal delas? O tempo.
Vivemos em uma era em que tempo é, literalmente, dinheiro. E ainda somos ensinadas (mesmo que de forma sutil) que cabe a nós moldar o nosso tempo em função dos outros (filhos e familiares).
Flexibilizá-lo, dobrá-lo, sacrificá-lo. Isso tem um preço. A diferença salarial entre homens e mulheres persiste. Não porque somos menos capazes ou menos ambiciosas, mas porque o mundo ainda espera que sejamos as cuidadoras. E quando cuidamos do mundo, quem cuida da nossa trajetória profissional?
O livro não aponta dedos. Ele não condena escolhas, nem romantiza dificuldades. Ele apenas nos oferece uma lente limpa para ver o que está acontecendo. Goldin fala, por exemplo, da indústria farmacêutica como um modelo mais viável para mulheres em setores tão exigentes quanto o jurídico ou o financeiro (algo que, para mim, foi especialmente revelador). Como advogada, fiquei chocada ao ver o Direito entre as áreas com maior desigualdade de salários por tempo de dedicação. Mas também senti um certo alívio ao saber que há outras formas de estruturar o trabalho e que mudanças são possíveis.
Ao longo da leitura, voltei muitas vezes à minha própria trajetória. Gostaria de ter lido este livro há mais tempo, talvez ainda na faculdade. Ele teria me ajudado a entender que nem tudo depende de esforço individual. Que há padrões históricos que se repetem. E que, embora por vezes pareça tarde para recomeçar, estamos sempre a tempo. O tempo, afinal, nunca é só nosso… ele é também um fio que nos liga a outras mulheres, que vieram antes e que seguem conosco, como parte de uma mesma onda.
É um livro sobre trabalho. Mas, no fundo, é um livro sobre escolha. Sobre liberdade. Sobre pertencimento. E sobre o poder de olhar para o passado para entender o presente e desenhar um futuro mais justo.
Recomendo muito essa leitura. E desejo, de verdade, que mais mulheres falem sobre ele. Porque há livros que nos transformam. Mas há também aqueles que, silenciosamente, nos acolhem.
Capitalism, Alone foi uma das leituras mais interessantes que fiz neste ano (até agora!). Branko Milanović oferece uma análise profunda e original sobre o caminho atual do capitalismo, destacando como ele se manifesta em duas formas distintas: o capitalismo liberal meritocrático, predominante no Ocidente, e o capitalismo político, com a China como principal exemplo.
O livro se afasta bastante da visão clássica do capitalismo que costumamos aprender na escola. Ao invés de tratar o capitalismo como um bloco só, Milanović mostra como ele se adaptou às estruturas políticas e sociais de cada país, criando modelos que convivem, competem e influenciam o mundo de formas diferentes. A parte sobre a China, em especial, me chamou muito a atenção.. em especial ao entender como o capitalismo pode funcionar sob uma estrutura autoritária e altamente planejada.
Outro ponto forte do livro são as referências e dados. Milanović é economista e isso fica claro na riqueza analítica e nas conexões que ele faz. No entanto, justamente por ter um foco tão econômico, senti falta de uma abordagem mais profunda sobre os aspectos comportamentais e sociais que também moldam o sistema capitalista moderno. Não que ele ignore essas questões, mas elas poderiam ser mais exploradas.
Uma das reflexões que mais ficou comigo foi sobre os efeitos colaterais das “boas notícias”. Por exemplo, o livro mostra como a igualdade de gênero, um avanço necessário e inegociável, pode também contribuir para ampliar a desigualdade social. Foi esse ponto que me levou a escolher Career and Family, da Claudia Goldin, como minha próxima leitura.
Além disso, o livro trata de temas delicados como a corrupção, que, em muitos contextos, acaba funcionando como um “lubrificante” dentro de certos sistemas.
Recomendo fortemente Capitalism, Alone. É uma leitura que nos ajuda a entender melhor o sistema no qual estamos inseridos.. com suas complexidades, contradições e dilemas. Um livro que informa e convida à reflexão. Para mim, certamente um dos melhores do ano.
Noise é um daqueles livros que abrem a mente para um problema que está por toda parte, mas que raramente conseguimos identificar: o ruído nas decisões. Se “viés” (bias) já é um conceito bastante conhecido, especialmente em áreas como saúde e direito, Noise mostra que existe outro inimigo silencioso: a variabilidade indesejada nos julgamentos.
Um exemplo clássico que o livro aborda, e que também aparece em Ressurreição de Tolstói, é o dos juízes que mudam o rigor das sentenças dependendo da hora do dia (mais severos antes do almoço, mais brandos depois). Mas o que mais me surpreendeu foi saber que até mesmo exames de imagem sofrem com esse tipo de ruído. Isso é especialmente inquietante: imagine dois médicos analisando o mesmo raio-X e chegando a conclusões diferentes não por falta de competência, mas por fatores aleatórios como o humor do dia ou o ambiente.
Eu trabalho com análise de riscos jurídicos no setor de tecnologia, e esse livro me fez refletir muito sobre a consistência das decisões no meu dia a dia. Ele não apenas aponta os problemas, mas também traz ferramentas práticas, como auditorias de ruído, que ajudam a identificar e reduzir essas variações indesejadas. Achei especialmente útil o fato de os autores indicarem quais capítulos você deve ler conforme seu objetivo com a leitura.
A leitura, confesso, pode ser técnica e um pouco densa em certos trechos. Mas vale a pena. É o tipo de livro que pode impactar positivamente qualquer profissão que envolva julgamento humano.
Se você já se perguntou por que decisões aparentemente similares geram resultados tão diferentes, ou se quer tornar seu processo decisório mais justo e eficaz, Noise é uma leitura essencial.
Depois de um hiato considerável, achei importante retomar as resenhas e dividir com vocês algumas das leituras mais marcantes desse tempo.
Esse clássico de Gustave Flaubert é, sem dúvida, uma obra incrível. Representa com profundidade uma fase inicial que muitas mulheres experienciam ao se descobrir romanticamente: aquela mistura de expectativa, idealização e desejo por uma vida mais intensa, mais bela, mais significativa. Emma Bovary nos guia por uma viagem que, infelizmente, se parece demais com a realidade de muitas mulheres ao redor do mundo. Uma busca por amor e liberdade que, em vez de conduzir à plenitude, revela as limitações impostas pela sociedade — e pelo próprio imaginário do amor romântico.
Madame Bovary trata de um tema universal: a frustração feminina diante de um mundo que promete felicidade no amor, mas entrega opressão e decepção. No entanto, como tantos outros clássicos, é uma obra escrita sob uma perspectiva masculina. E isso se sente. A profundidade emocional da personagem, por mais bem construída que seja, parece filtrada por um olhar externo. Aqui, confesso, senti falta da escrita de uma mulher — alguém que pudesse narrar não apenas os gestos, mas o íntimo, os silêncios e as contradições de Emma com mais generosidade.
Durante a leitura, me lembrei de algo que li sobre Karl Marx, que ao analisar estatísticas de suicídio, refletia sobre o fato de que tantas mulheres escolhiam esse fim — algo que ele relacionava diretamente às condições sociais e existenciais que lhes eram impostas. Isso não é um spoiler da obra (e honestamente nem lembro se essa temática é tratada diretamente no livro), mas quis deixar registrado aqui. Porque Madame Bovary é também um retrato de solidão, de ilusões destruídas, e do peso que é colocado sobre os ombros femininos quando lhes vendem o amor como uma promessa quando na verdade, é só mais uma relação humana, com todas as suas falhas, jogos de poder e ilusões.
É um livro que prende do começo ao fim. O ritmo, a escrita e a construção das cenas são envolventes e te puxam para dentro da vida de Emma, mesmo que o destino dela seja, muitas vezes, cruel.
Quem leu a obra “Middlemarch” sabe que os mortos continuam influenciando a vida dos vivos por meio de seus testamentos. Esses documentos, além de impactarem a vida de diversos personagens, também são um instrumento jurídico, e acho importante (e legal) dividir um pouco sobre eles na perspectiva da Inglaterra retratada por George Eliot.
Enquanto desenvolvia a obra entre 1º de novembro e 17 de dezembro de 1869, George Eliot leu “Ancient Law: its connection with the early history of society and its relation to modern ideas” de Henry Maine. Nesta obra, ela teve contato com leis romanas que explicavam as raízes dos princípios da lei inglesa. Com base nessa leitura, ela incluiu algumas questões jurídicas em Middlemarch, em especial sobre testamentos.
Na Inglaterra Vitoriana
Na Inglaterra vitoriana, existia um enorme interesse nos testamentos, pois esses documentos poderiam conter fofocas, como declarações amargas por parte do falecido e até mesmo desaprovações. A obsessão por testamentos pode ter como influência esses aspectos incomuns que o falecido deixava no documento, além de também não existir a obrigatoriedade de passar propriedades aos filhos e cônjuges. Um caso muito interessante é o de Sir Thomas May de Londres, que em 1887 deixou um xelim para sua esposa e filha, enquanto legava uma soma anual de £100 para seu empregado (uma quantia grande para a época!).
Ainda que atiçasse a curiosidade alheia, os testamentos não eram comuns. Em 1850, apenas cerca de 15% dos adultos que morreram deixaram riqueza suficiente para fazer da herança um assunto que valesse a pena; a maioria das pessoas morria sem nada ou estavam endividadas.
Mesmo entre aqueles que tinham algo para deixar, as desigualdades eram gritantes. Em 1911, 90% das propriedades eram avaliadas em menos de £1.000 – coletivamente, elas representavam apenas 10% da riqueza total passada na morte. No outro extremo do espectro, apenas 0,1% das propriedades estavam avaliadas em mais de £50.000, embora coletivamente essas propriedades representassem 38% da riqueza total.
Os fundos (trusts) eram uma ferramenta comum para garantir que as crianças se beneficiassem, com o tempo, da riqueza deixada pelos pais. Na morte de uma pessoa com propriedades, a maior parte de sua riqueza passaria para administradores nomeados. Quando a cônjuge do proprietário falecido morria, ou quando os filhos atingiam a idade adulta, os bens mantidos em confiança eram divididos ou vendidos pelos curadores e compartilhados, geralmente igualmente, entre todos os filhos sobreviventes.
Mão Morta e Entidades Religiosas
Além dessa curiosa sobre o período vitoriano, há algo interessante em um dos testamentos que aparecem em Middlemarch – que é a famosa “mão morta”. Para entender o que é essa “mão morta”, é preciso voltar um pouco no tempo:
Na Inglaterra medieval, a propriedade do inquilino de um feudo estava sempre sujeita à vontade de seu Senhor. Se as circunstâncias legais daquele inquilino mudassem de alguma forma – se ele se casasse, por exemplo, ou morresse, ou cometesse um crime – então aquela propriedade era revertida e o Senhor poderia escolher com qual feudo substituí-la. No entanto, essa liberdade era negada quando os inquilinos doavam a propriedade a uma entidade religiosa – pois a Igreja é uma instituição que não morria, não se casava ou mudava de qualquer forma seu status legal em benefício do Senhor, e o arrendatário era livre para mantê-las sob a égide do corpo religioso.
Os feudos também geravam impostos para o rei, principalmente sobre a concessão ou herança de uma propriedade. Se um imóvel se tornasse propriedade de uma entidade religiosa que nunca poderia morrer, esses impostos nunca seriam devidos. Era semelhante às propriedades pertencentes aos mortos, daí o termo “Mão morta” – mort main.
Uma vez que a terra passou para o controle da Igreja, ela nunca poderia ser abandonada. Como a Igreja nunca morreria, a terra nunca poderia ser herdada por morte (portanto, nenhuma taxa poderia ser cobrada pela entrada do herdeiro), nem poderia ser roubada ao senhor (perdida por falta de herdeiro). Isso veio a ser conhecido como a “mão morta” (francês: mortmain) – a Igreja (uma entidade não viva) representava essa mão morta, ou a mão era a do doador morto, que na verdade ainda controlava a terra como se vivo estivesse. Assim, as ações de homens que morreram gerações antes continuaram a controlar suas antigas terras (assim como acontece com um personagem de Middlemarch que morreu e, ainda assim, controla a sua propriedade).
Os Estatutos de Mortmain visavam restabelecer a proibição de doar terras à Igreja com o objetivo de evitar serviços feudais, uma proibição que se originou na Carta Magna de 1215. Os Estatutos de Mortmain previam que nenhuma propriedade poderia ser concedida a uma corporação sem o consentimento real e de seu Senhorio.
Pela Lei de 1279, que é uma parte dos Estatutos de Mortmain, nenhuma pessoa religiosa tinha permissão para adquirir terras. Se o fizessem, a terra era confiscada ao senhor feudal imediato, que teria um breve período para confiscar a propriedade. Se não o fizesse, o senhor logo acima dele (na hierarquia feudal) teria uma oportunidade semelhante.
No entanto, estes Estatutos revelaram-se ineficazes na prática. Pois se o suserano estivesse disposto, a terra ainda poderia ser doada a uma casa religiosa com sua cumplicidade, ou seja, por sua inação. E licenças do rei para adquirir terras em mortmain foram facilmente obtidas naqueles anos, pois Henrique III era simpatizante dos corpos religiosos durante seu longo reinado.
As leis referentes ao mort main existiram na Inglaterra desde o século XIII até que foram finalmente revogadas em 1960.
A obra “Pedro Páramo” é uma viagem sem volta para um universo mágico mexicano, onde conhecemos a pequena e quente cidade de Comala. Lá acompanhamos a busca de um jovem, Juan Preciado, por seu pai, Pedro Páramo.
Ao chegar em Comala, Juan percebe que todos os moradores da cidade possuem alguma relação com o seu pai. Mas, ao percorrer esse lugar, elementos mágicos se confundem com o real e o leitor se vê mergulhado em uma realidade única em que não há temporalidade e todos os personagens (ainda que estejam ligados) são contraditórios entre si.
Existe um elemento específico que liga os personagens, e que não é apenas o fato de todos conhecerem Pedro Páramo, mas o motivo de estarem condenados a viver em Comala. Esse elemento é o ponto mais interessante da obra, na minha opinião, porque surpreende o leitor e explica o motivo do mergulho – mas que não revelarei aqui, porque não quero estragar a experiência e dar spoilers. Mas fica o mistério!
A estrutura do livro é interessantíssima, pois não existe uma divisão entre os capítulos e ele brinca com a nossa sensação de real e imaginário. Também não há uma sequência temporal dos acontecimentos para os personagens e tampouco para nós, como leitores. Além disso, os acontecimentos não são narrados, o que faz com a gente viva a história da cidade e seus habitantes como se estivéssemos no exato momento em que tudo ocorre e na perspectiva de cada um.
Explico: cada personagem conta a sua história no momento em que ela acontece. Assim, conseguimos viajar no tempo com os personagens, que se contradizem e não são confiáveis.
É uma obra divertida e crítica. Dá para sentir a solidão latino-americana (tão bem explorada por Gabo) de maneira latente e, ao mesmo, se divertir com a realidade única de Comala – uma cidade de pedra, assim como Pedro 😉
Foi um dos melhores livros que li na vida e espero que você (que chegou até aqui na resenha) se interesse e leia também. É especial, lindo e eterno. Eu o li em espanhol e, para praticar o idioma, recomendo o audiolivro abaixo.
Vivemos em momentos difíceis por conta da pandemia do COVID-19 e muitas pessoas preferem se distrair com um bom livro durante o período de isolamento social. Tendo em vista essa ideia de “fuga da realidade”, selecionei os livros abaixo para quem procura uma boa distração em um novo universo.
A maioria dos livros, curiosamente, são nomes de seus personagens principais.
Todos os livros podem ser comprados pelo melhor preço no link especial em cada título. Boa leitura!
Esse clássico de J. K. Rowling faz com que a gente viaje com o Harry, personagem principal, em um mundo mágico paralelo ao nosso. Quem nunca esperou a sua carta de Hogwarts? Haha.
É um livro muito bom para reler também, pois no decorrer no livro, Harry se descobre no mundo novo dos bruxos e acabamos aprendendo as coisas com ele.
Esse livro é para aqueles que buscam o “lado negro da força” e curtem uma boa história de terror. Ele reúne uma seleção especial de contos e novelas do autor H. P. Lovecraft, um clássico dos clássicos do terror. Essa edição é muito linda e super trabalhada pela editora DarkSide Books, a primeira editora brasileira dedicada à histórias de terror e fantasia no Brasil.
Esse livro foi publicado em 1987 e é o livro que fez Murakami se tornar um ícone. A obra tem como foco a transição da adolescência para a vida adulta por meio de Toru Watanabe, um jovem estudante de teatro que vive em um alojamento estudantil para homens.
Ele se sente muito sozinho do alojamento e começa a estudar cada um de seus companheiros de quarto até que reencontra Naoko, a namorada de Kizuki, um amigo de infância de Toru que cometeu suicídio. Toru e Naoko se aproximam e dividem essa tragédia e problemas psicológicos, em especial de Naoko.
Essa obra é muito bem trabalhada por Jane Austen e o foco é acompanharmos Emma em suas tentativas de formar casais entre seus amigos e conhecidos. Emma Woodhouse, uma mulher de 21 anos com uma grande beleza e super inteligente. Ela é uma mulher independente e rica que vive com o seu pai em Hartfield, interior da Inglaterra perto do vilarejo de Highbury.
O que me deixa muito surpresa nesse livro é o tipo de personagem feminina que Emma representou para a época (foi publicado em 1815), pois ela deixa claro que ela não busca um casamento (a não ser que se apaixone perdidamente), pois é rica e quer fazer companhia para seu pai. Mas, ao fim, Emma se apaixona por George Knightley, um grande amigo seu.
Um romance clássico de Kiev Tolstói publicado entre 1875 e 1877 e é um clássico do realismo literário. O livro conta a história de Anna Kariênina, uma aristocrata russa, que entra em um caso extra-conjugal com o Conde Vronsky. Anna precisa decidir se irá enfrentar um divórcio com seu esposo Alexey Karenin, mas tal decisão não é fácil devido às pressões que ela pode enfrentar pela sociedade russa czarista. Mas, após uma viagem, ela fica paranóica com a infidelidade de Vronsky e perde o controle.
A obra também descreve a história de Konstantin Levin, um homem que encontra dificuldades para formar uma família.
This review about the novel Things Fall Apart by Chinua Achebe is based on my reading, the historical context of the novel’s publication, and a text by Noshua Amoras de Morais e Silva (reference below in Portuguese).
Chinua Achebe (born on November 16, 1930, in Ogidi, in British Nigeria) was one of the best known African authors of the 20th century. Achebe is best known for his two notable works: Things Fall Apart and There Was a Country – A Personal History of Biafra. The main themes of his works are the prejudice that Western culture has concerning African culture and the effects of the European colonization of Africa.
What I believe is important about the author’s background for the analysis of the book is that Achebe was born in 1930, exactly 30 years before Nigeria’s independence as a British colony in Africa (October 1, 1960). Therefore, Achebe experienced Nigeria under British colonial rule and was brought up in the traditional Igbo culture. The Igbo people are one of the largest ethnic groups in Africa, with the majority of their population located in southern and western Nigeria. According to “Ecos da Leitura” of Tag Livros, there are trace elements of Igbos that date back more than 1500 years.
Things Fall Apart was published in 1958, when Achebe was 28 years old and tells us about the downfall of the Igbo culture after the arrival of European missionaries in Igbo’s land. The book is divided into three parts and its protagonist is a man called Okonkwo.
Okonkwo is a famous fighter of an Igbo community located in Umuofia. He is considered to have a “bad past” due to his dead father’s actions, however, Okonkwo managed to rise within the community. In the first part of the book, Achebe shows us the Igbo culture in several aspects: worship of ancestors, religiosity and even the position of women in the community.
According to Noshua Amoras, the first thing that falls apart for Okonkwo is when a child in the community dies by his gun. Per Igbo’s people’s culture, killing a clansman is a crime against the earth goddess. So, as a punishment, Okonkwo and his family had to move to Mbanta for seven years in exile. Mbanta is the clan of the protagonist’s mother. In Mbanta, Okonkwo joined the clan leaders and they discussed European missionaries trying to contact other nearby communities and even building churches in their territories. Shortly thereafter, missionaries arrived in Mbanta and asked the referred local leaders for permission to build a church.
The leaders, in order to keep the missionaries away, authorized them to build the Church in land considered to be cursed. But, to make matters worse, the missionaries succeed on this cursed land and Okonkwo’s son Nwoye joins the missionaries.
According to Noshua Amoras, things do fall completely apart for Okonkwo when he returns to Umuofia and realizes that the white men had already settled in and built a church. Thus, Okonkwo lives with the missionaries in his community and notices how his culture was dying with the strengthening and impositions made by the church.
He tries to create a resistance to ban white men from his territory, but this does not work as he realizes that they do not have enough weapons to fight against the missionaries. Also, they consider that fighting against them would be the same to go to war with a part of their clan, as part of it was converted to the Christian religion.
“O homem branco é muito esperto. Chegou calma e pacificamente com sua religião. Nós achamos graça nas bobagens deles e permitimos que ficasse em nossa terra. Agora, ele conquistou até nossos irmãos, e o nosso clã já não pode atuar como tal. Ele cortou com uma faca o que nos mantinha unidos, e nós despedaçamos.” (ACHEBE, Chinua, 1958 [2019], p. 198).
Um dos motivos pelos quais eu decidi criar um blog foi o espaço para poder discutir sobre livros. Aqui apresentarei um pouco do livro “O Mundo se Despedaça” de Chinua Achebe com base na leitura feita por mim, contexto histórico da sua publicação e um texto de Noshua Amoras de Morais e Silva (referência abaixo).
Chinua Achebe, nascido em 16 de novembro de 1930 em Ogidi, no Protetorado britânico da Nigéria, foi um dos mais conhecidos autores africanos de todo o século XX. Achebe é mais conhecido por suas duas principais obras: Things Fall Apart (“O Mundo se Despedaça”, em inglês) e There Was a Country – A Personal History of Biafra. Dentre os principais temas de suas obras, estão a depreciação da cultura africana pela cultura eurocentrica e os efeitos da colonização da África pelos europeus, os quais são o foco do livro que iremos analisar mais em frente.
O que acho importante sobre o background do autor para a análise do livro é que Achebe nasceu em 1930, exatamente 30 anos antes da independência da Nigéria como colônia britânica na África (1 de outubro de 1960). Logo, Achebe vivenciou uma Nigéria sob domínio colonial britânico e foi criado na cultura tradicional Igbo.
O povo Igbo é um dos maiores grupos étnicos na Africa, sendo que a maioria de sua população localiza-se no sul e oeste da Nigéria. De acordo com o Ecos da Leitura da Tag Livros, verifica-se que existem vestígios Igbos que datam de mais de 1500 anos.
“O Mundo se Despedaça” foi publicada em 1958, quando Achebe tinha 28 anos, e nos conta um pouco da desintegração da cultura Igbo após a chegada e missionários europeus. O livro é dividido em três partes e tem como protagonista um homem chamado Okonkwo.
Okonkwo é um famoso lutador do povo Igbo em Umuófia, com um passado ruim por conta de seu pai, mas que conseguiu se reerguer dentro da comunidade. Ele é considerado um homem de sucesso dentro da comunidade, pois possui três esposas e uma boa colheita em seu compound. Na primeira parte do livro, Achebe nos mostra com detalhes a cultura do povo Igbo em diversos aspectos: culto aos ancestrais, religiosidade e até a posição da mulher na comunidade.
De acordo com Noshua Amoras, a primeira rachadura do mundo de Okonkwo se dá quando uma criança da comunidade morre pela sua arma, sendo uma grande ofensa aos deuses da terra. Sendo assim, como punição, Okonkwo e sua família tiveram que se mudar para Mbanta por sete anos. Mbanta é o clã da mãe do protagonista.
Em Mbanta, Okonkwo participava das conversas com os líderes da comunidade. Nessas conversas, haviam comentários sobre missionários europeus tentando contato com outras tribos próximas e até construindo igrejas. Pouco tempo depois, os missionários chegaram à Mbanta e pediram permissão os líderes locais para a construção de uma igreja.
Os líderes, para afastar os missionários, autorizaram para que fizessem a Igreja em um local chamado Floresta Maldita, terreno que geralmente fazia com que as pessoas sofressem. E, para piorar a situação, os missionários não sofreram no referido terreno e o filho de Okonkwo, Nwoye, se junta aos missionários.
Segundo Noshua Amoras, o mundo de fato se despedaça para Okonkwo quando ele volta à Umuófia e percebe que o homem branco já havia se instalado no local e construído uma igreja. Assim, Okonkwo convive com os brancos em sua tribo e repara como a sua cultura estava morrendo com o fortalecimento da cultura europeia e imposições feitas pela igreja.
Ele tenta organizar uma resistência para expulsar os homens brancos de seu território, mas tal medida não vai para frente, pois o clã percebe que não tem armas suficientes para guerrear com as armas dos brancos e, não suficiente, guerrear contra os brancos seria a mesma coisa que guerrear com parte de seus irmãos, que acabaram se convertendo para a religião cristã.
“Seu pai tem insistido em me chamar de “bruxa”. Este é simplesmente um termo que os homens dão às mulheres que não tem medo deles, às mulheres que se recusam à submissão” (p. 89)
Este review possui informações super importantes que podem ser consideradas como spoiler, mas não revelarei o fim da história.
Esse livro é uma releitura da história da Pequena Sereia, que ficou muito famosa por conta do seu filme da Disney. Essa foi a primeira releitura que li e a achei muito boa. Os tópicos abordados por Louise O’Neill são de grande complexidade e ela conseguiu criar um universo novo e atual para o cenário do filme da Disney. Estou utilizando o filme como base, pois não li o conto de Hans Christian Andersen.
Achei incrível como muitos pontos (até sem sentido) da história original (filme), fazem mais sentido nessa releitura. Nessa versão, a princesa se chama Gaia e as sereias vivem sobre a monarquia absolutista do Rei dos Mares. Nessa monarquia, ele é o dono da verdade e faz uma grande alienação para toda a sua população no sentido de vender a ideia de que é o ser mais poderoso do oceano e que a economia está boa (digo economia, mas no livro há a menção de que existe fome nos arredores do palácio real, fato negado pelo Rei). O Rei dos Mares também mostra uma postura racista (ao meu ver, mais uma vez) e busca uma certa uniformidade na aparência da sua população.
Todos que contestam o Rei dos Mares será penalizado, mas não o livro não demonstrou como tal pena funcionaria. O único exemplo que temos é a morte da mãe da Gaia, então esposa do Rei dos Mares. Mas esse ponto será discutido mais em breve.
Esse livro tem uma abordagem feminista bastante crítica, pois o reino do pai de Gaia é extremamente machista. O machismo fica evidente no momento em que as mulheres não são autorizadas a emitir opiniões e são limitadas a serem bonitas, apenas. Ainda, o sucessor do reino apenas poderá ser um homem. Os casamentos das filhas do rei são arranjados e os maridos escolhidos pelo próprio rei. De acordo com o seu pai, Gaia estava destinada a casar com um homem idoso, enquanto ela tinha apenas 15 anos.
Um fato curioso desse universo é de que as meninas “se tornam mulheres” quando fazem quinze anos e são autorizadas a nadar até a superfície, sendo proibido qualquer contato com humanos. Há bastante medo dos humanos, pois acredita-se que a rainha (mãe de Gaia) morreu capturada por eles. Mas depois descobrem que não foi verdade.
Assim que fez quinze anos, Gaia decidiu subir até a superfície e avistou um grupo de jovens adultos (eles tinham cerca de dezoito anos) e se apaixona por um deles. O garoto se chama Oliver e tem uma namorada, o que deixa Gaia bastante decepcionada. Durante um naufrágio do barco em que os jovens estavam, um grupo de sereias que comem humanos (um tipo diferente de sereia, pois essas teriam origem híbrida) pretendiam matar Oliver, mas Gaia impediu sugerindo para que matassem a namorada do rapaz. Assim, Oliver foi o único sobrevivente do naufrágio.
Bastante decepcionada com o noivado arranjado por seu pai (sendo o noivo um idoso super nojento), ela decide ir até o reino da Bruxa do Mal. Esse reino é relativamente próximo do reino do Rei dos Mares, mas o livro o descreve como um ambiente sombrio e assustador. A bruxa é uma sereia chamada Ceto. Ela é gorda e possui uma calda preta com diversas perólas (o que era considerado como uma ostentação entre as sereias e considerado impróprio pelo rei).
Gaia pede para que Ceto a torne humana a fim de se livrar dos seus problemas no mar e se casar com Oliver (agora solteiro após a morte de sua namorada causada indiretamente por Gaia). Ceto explica que há renúncias nessa escolha e que a magia não sai de graça, mas mesmo assim Gaia aceita cortar a sua língua (e perder a sua voz) e sentir uma dor insuportável toda vez que andasse com as suas pernas novas.
Assim que chega à terra firme, ela conhece Oliver e ele se mostra interessado por ela. Ele oferece moradia e a apresenta para sua mãe Eleanor. A Eleanor é uma empresária brilhante que sempre administrou o negócio da família, mas que precisou sempre da presença de seu marido por conta dos investidores machistas que não a ouviam. O marido de Eleanor morreu após se jogar no mar em busca da mãe de Gaia, quando ainda estava viva. Nesse ponto da história que descobrem que o pai do garoto era o motivo pelo qual a mãe da Gaia sempre ia à superfície.
De todo modo, Gaia vive com Oliver e vê que o rapaz trata a sua mãe de maneira muito má e que ele é bastante mimado. Não suficiente, todos os dias as pernas de Gaia de deformavam cada vez mais e sangravam horrores. Em uma festa, ele troca Gaia por uma cantora chamada Flora e ela se sente traída. Flora tinha a voz de Gaia e ela descobre que a mulher é na verdade Ceto disfarçada. Ceto se disfarçou para salvar Gaia do destino cruel com um homem que não a ama (que a trocou na primeira oportunidade) e que não estaria à sua altura. Ceto não consegue desfazer a magia e sugere outras opções para Gaia, que nunca mais será a mesma…