“People are almost always better than their neighbors think they are.”
“Middlemarch, A Study of Provincial Life” é uma obra da autora britânica Mary Anne Evans, que escreveu como George Eliot. O livro apareceu pela primeira vez, no formato de oito volumes, de 1871 a 1872. A obra é situada em Middlemarch, uma cidade fictícia inglesa de Midland, de 1829 a 1832, e retrata a realidade dos moradores daquele local (casamentos, projetos, mudanças sociais e políticas, etc.).
Agora viajar e conhecer a cidade de Middlemarch:
Meu primeiro conselho para essa viagem é se preparar para imprevistos. Middlemarch é um local em que não se deve criar expectativas, pois seu planos possivelmente darão errado. Assim como o nosso ilustre narrador disse “we mortals, men and women, devour many a disappointment between breakfast and dinner-time”. Essa sensação de “dar tudo errado” permite com que os personagens se desenvolvam brilhantemente e desafia o leitor. Isso não é fácil, mas estamos em boas mãos com Eliot, que faz esse desafio ser uma experiência enriquecedora.
Parte desse mérito se dá pelo fato dos personagens serem humanos: ninguém é 100% bom e nem 100% mau. As heroínas e os heróis falham em algum momento, ainda que depois tudo ocorra bem (ou não rs). Penso que a sensação de decepção ocorre por conta da grande ambição de alguns moradores de Middlemarch. É aquilo: melhor criar unicórnios do que expectativas, não é mesmo? rs
Queria escrever sobre alguns personagens centrais, como Dorothea Brooke, Tertius Lydgate, Caleb Garth e Nicholas Bulstrode. Mas acho que é mais interessante falar da obra como uma mentalidade coletiva, pois a cidade não se restringe apenas aos personagens e, muitas vezes, impactam diretamente os objetivos deles.
O clima de Middlemarch é de mudança e pressão social. A origem das famílias conta muito para a reputação na sociedade. Então, se a sua origem não é conhecida, não recomendo a viagem para lá.
Além disso, Middlemarch se passa durante um período tumultuado na história inglesa, quando mudanças políticas, científicas e a própria industrialização causaram um grande impacto no país. Os moradores de Middlemarch se opõem inflexivelmente à reforma política e científica, tanto pelo medo da mudança quanto pelo apego a modos de vida antigos e disfuncionais. Essa oposição intensifica a impressão de que eles são uma comunidade retrógrada, desconfiada de mudança e progresso – mesmo que isso possa beneficiá-los.
Senti que Middlemarch foi uma ancorada. Um livro que coloca os nossos pés no chão e faz a gente sentir que nem sempre a vida é linda e que nem sempre tudo é aquilo que sonhamos. Foi um livro divertido e, ao mesmo tempo, melancólico.
Se quiser ver a minha análise sobre Direito e Middlemarch (Livro V), assista o vídeo:
Quem leu a obra “Middlemarch” sabe que os mortos continuam influenciando a vida dos vivos por meio de seus testamentos. Esses documentos, além de impactarem a vida de diversos personagens, também são um instrumento jurídico, e acho importante (e legal) dividir um pouco sobre eles na perspectiva da Inglaterra retratada por George Eliot.
Enquanto desenvolvia a obra entre 1º de novembro e 17 de dezembro de 1869, George Eliot leu “Ancient Law: its connection with the early history of society and its relation to modern ideas” de Henry Maine. Nesta obra, ela teve contato com leis romanas que explicavam as raízes dos princípios da lei inglesa. Com base nessa leitura, ela incluiu algumas questões jurídicas em Middlemarch, em especial sobre testamentos.
Na Inglaterra Vitoriana
Na Inglaterra vitoriana, existia um enorme interesse nos testamentos, pois esses documentos poderiam conter fofocas, como declarações amargas por parte do falecido e até mesmo desaprovações. A obsessão por testamentos pode ter como influência esses aspectos incomuns que o falecido deixava no documento, além de também não existir a obrigatoriedade de passar propriedades aos filhos e cônjuges. Um caso muito interessante é o de Sir Thomas May de Londres, que em 1887 deixou um xelim para sua esposa e filha, enquanto legava uma soma anual de £100 para seu empregado (uma quantia grande para a época!).
Ainda que atiçasse a curiosidade alheia, os testamentos não eram comuns. Em 1850, apenas cerca de 15% dos adultos que morreram deixaram riqueza suficiente para fazer da herança um assunto que valesse a pena; a maioria das pessoas morria sem nada ou estavam endividadas.
Mesmo entre aqueles que tinham algo para deixar, as desigualdades eram gritantes. Em 1911, 90% das propriedades eram avaliadas em menos de £1.000 – coletivamente, elas representavam apenas 10% da riqueza total passada na morte. No outro extremo do espectro, apenas 0,1% das propriedades estavam avaliadas em mais de £50.000, embora coletivamente essas propriedades representassem 38% da riqueza total.
Os fundos (trusts) eram uma ferramenta comum para garantir que as crianças se beneficiassem, com o tempo, da riqueza deixada pelos pais. Na morte de uma pessoa com propriedades, a maior parte de sua riqueza passaria para administradores nomeados. Quando a cônjuge do proprietário falecido morria, ou quando os filhos atingiam a idade adulta, os bens mantidos em confiança eram divididos ou vendidos pelos curadores e compartilhados, geralmente igualmente, entre todos os filhos sobreviventes.
Mão Morta e Entidades Religiosas
Além dessa curiosa sobre o período vitoriano, há algo interessante em um dos testamentos que aparecem em Middlemarch – que é a famosa “mão morta”. Para entender o que é essa “mão morta”, é preciso voltar um pouco no tempo:
Na Inglaterra medieval, a propriedade do inquilino de um feudo estava sempre sujeita à vontade de seu Senhor. Se as circunstâncias legais daquele inquilino mudassem de alguma forma – se ele se casasse, por exemplo, ou morresse, ou cometesse um crime – então aquela propriedade era revertida e o Senhor poderia escolher com qual feudo substituí-la. No entanto, essa liberdade era negada quando os inquilinos doavam a propriedade a uma entidade religiosa – pois a Igreja é uma instituição que não morria, não se casava ou mudava de qualquer forma seu status legal em benefício do Senhor, e o arrendatário era livre para mantê-las sob a égide do corpo religioso.
Os feudos também geravam impostos para o rei, principalmente sobre a concessão ou herança de uma propriedade. Se um imóvel se tornasse propriedade de uma entidade religiosa que nunca poderia morrer, esses impostos nunca seriam devidos. Era semelhante às propriedades pertencentes aos mortos, daí o termo “Mão morta” – mort main.
Uma vez que a terra passou para o controle da Igreja, ela nunca poderia ser abandonada. Como a Igreja nunca morreria, a terra nunca poderia ser herdada por morte (portanto, nenhuma taxa poderia ser cobrada pela entrada do herdeiro), nem poderia ser roubada ao senhor (perdida por falta de herdeiro). Isso veio a ser conhecido como a “mão morta” (francês: mortmain) – a Igreja (uma entidade não viva) representava essa mão morta, ou a mão era a do doador morto, que na verdade ainda controlava a terra como se vivo estivesse. Assim, as ações de homens que morreram gerações antes continuaram a controlar suas antigas terras (assim como acontece com um personagem de Middlemarch que morreu e, ainda assim, controla a sua propriedade).
Os Estatutos de Mortmain visavam restabelecer a proibição de doar terras à Igreja com o objetivo de evitar serviços feudais, uma proibição que se originou na Carta Magna de 1215. Os Estatutos de Mortmain previam que nenhuma propriedade poderia ser concedida a uma corporação sem o consentimento real e de seu Senhorio.
Pela Lei de 1279, que é uma parte dos Estatutos de Mortmain, nenhuma pessoa religiosa tinha permissão para adquirir terras. Se o fizessem, a terra era confiscada ao senhor feudal imediato, que teria um breve período para confiscar a propriedade. Se não o fizesse, o senhor logo acima dele (na hierarquia feudal) teria uma oportunidade semelhante.
No entanto, estes Estatutos revelaram-se ineficazes na prática. Pois se o suserano estivesse disposto, a terra ainda poderia ser doada a uma casa religiosa com sua cumplicidade, ou seja, por sua inação. E licenças do rei para adquirir terras em mortmain foram facilmente obtidas naqueles anos, pois Henrique III era simpatizante dos corpos religiosos durante seu longo reinado.
As leis referentes ao mort main existiram na Inglaterra desde o século XIII até que foram finalmente revogadas em 1960.
Que livro misterioso foi esse! Anne Brontë nos presenteou com essa obra-prima única e cheia de surpresas. O livro foi publicado em 1848 sob o pseudônimo de Acton Bell e foi um sucesso instantâneo! mas após a morte de Anne, sua irmã Charlotte impediu sua republicação na Inglaterra até 1854.
Tudo estava claro e ordenado até a chegada de uma nova vizinha… Helen Graham, uma jovem viúva que se muda para Wildfell Hall (uma mansão elizabetana) com o seu filho e uma empregada. Pouco se sabe sobre Helen… na verdade, os vizinhos sabem praticamente nada sobre ela. E quanto mais eles tentam descobrir, menos ela revela sobre si, gerando uma insatisfação coletiva e o desejo por fofocas.
As fofocas começam a circular por toda a vizinhança, mas não convencem Gilbert Markham, um jovem fazendeiro da região. Gilbert decide descobrir a verdade sobre essa mulher tão curiosa e acaba se tornando o narrador perfeito!
O livro é escrito no formato de cartas, que Gilbert envia para o seu amigo sobre suas descobertas. Mas o que deixa Helen ser tão misteriosa? Isso só poderá ser respondido ao ler o livro, mas o que choca a população é o quanto Helen quebra as normas sociais de sua época (sua forma de sustento, forma de educar o seu filho, visão sobre casamento, etc).
Até aqui já deu para perceber que o livro trata sobre diversos assuntos e, por isso, acho que é tão profundo e completo. Anne navegou a fundo nas questões de sua época e no que realmente significava ser uma mulher do século XVIII, pois dá para “sentir na pele” muitas das questões que existem até hoje na nossa sociedade (dependência química, violência doméstica, casamento, maternidade, direito das mulheres, etc).
A experiência de ter lido tudo isso na perspectiva de uma mulher da época deixou tudo ainda mais latente e me sinto grata por ter tido a oportunidade de ter lido essa obra de Anne Brontë e o contato com a sua escrita única e envolvente. É completamente diferente do que vemos com outras obras de época e muito mais paupável… muitos risos, apertos, lágrimas e emoção!
É muito cômodo pensarmos que as mulheres não tinham direitos na época e que tudo era “pacífico”… Essa não é a verdade e Anne Brontë desmistifica isso nos mostrando como as mulheres resistiam (cada uma à sua maneira). Lembrando que até a aprovação do Married Women’s Property Act em 1870, uma esposa não tinha existência independente sob a lei inglesa e, portanto, nenhum direito de possuir propriedade ou celebrar contratos separadamente de seu marido, ou processar por divórcio, ou pelo controle e custódia de seus filhos.
Eu gostaria de escrever realmente TUDO o que senti com esse livro, mas quero que mais pessoas leiam e se surpreendam como eu na leitura. Esse livro tem um espaço especial no meu coração e espero que ele também ganhe um no de você que está lendo esse texto. Li o livro em inglês e, para praticar o idioma, acompanhei a leitura com o audiolivro abaixo:
Caso queira conhecer mais sobre o Direito Civil da época, veja o vídeo abaixo ou acesse a página do Livros de Lei no Instagram ou no Spotify.
Ler Virgínia é sempre um desafio para mim e para muitas das pessoas que me acompanham. Para mim é muito difícil compreender e ler um livro dela logo no primeiro contato. Nesse primeiro contato com obras experimentais, já cheguei a ser uma pessoa que “não lia Virgínia Woolf” (o que é totalmente absurdo visto quem sou hoje e como Woolf impacta a minha vida diariamente).
Mas tudo isso mudou após insistir na leitura de “Mrs. Dalloway”. Agora sou apaixonada pelo trabalho de Virgínia e compreendo que preciso de tempo para realmente me engajar na leitura (dar um “click”, na verdade). Geralmente preciso tentar umas duas vezes antes de conseguir mergulhar nas profundidades que Virgínia propõe em suas obras(-primas).
Sinto que “mergulhar” é a palavra certa quando lemos Woolf. Porque me sinto mergulhada em um mar abstrato em aquarela, cheio de cores, cenários e personagens. O narrador sempre tenta me puxar e indicar o caminho para seguir uma certa linearidade, que de linear não tem nada.
Esse mergulho aconteceu de forma bastante intensa durante a leitura de “Ao farol”, que me apresentou diversos desafios. Aliás, a leitura conseguiu fluir para mim na terceira tentativa e também com a ajuda de um audiobook (narrado pela Nicole Kidman, que faz um sotaque britânico horroroso, mas interpreta brilhantemente).
O livro conta sobre as duas visitas que a família Ramsay faz à Escócia, a primeira em 1910 e a segunda em 1920. Não personagens centrais e a narrativa vai navegando entre os pensamentos e percepções de cada membro da família e de seus conhecidos. Assim, Woolf conseguiu explorar as complexidades e ambiguidades do pensamento de cada membro da família – além de nos mostrar as percepções muito individuais que cada um tem do outro.
“Ao Farol” é uma obra inspirada na vida real de Woolf, pois sua família visitava o litoral, onde seu pai alugava um local para ficar com a família. Isso tudo até a morte de sua mãe, que fez com o que o pai de Woolf entrasse em depressão.
Grande parte da genialidade do livro, na minha opinião, é a forma em que ele é escrito – porque não existem diálogos “tradicionais” como vemos nos livros em geral. Todos os acontecimentos ocorrem dentro da mente dos personagens (em conformidade com o movimento modernista que Virgínia fez parte). O livro é curtinho, mas exige bastante tempo para ler e entender (vale várias releituras, por sinal).
Há algumas cenas que ficaram na minha cabeça após a leitura, creio que são as minhas favoritas. Uma delas é quando o Mr. e a Mrs. Ramsay saem para conversar após um jantar com os amigos, porque Woolf consegue intercalar os pensamentos que um tem do outro enquanto os dois conversam. O que eles pensam não necessariamente reflete o que eles dizem ou como eles se posicionam de fato, o que deixa tudo ainda mais factível e interessante para o leitor.
O livro não tem eventos alucinantes, por assim dizer. A verdadeira aventura acontece na complexidade do pensamento de seus personagens. Aliás, os eventos importantes e dramáticos do livro acontecem de maneira leve.
É incrível como Woolf consegue captar a ideia de “não dá para amar alguém 100% do tempo” nos pensamentos de seus personagens. Isso está refletido em outra cena que ficou na minha cabeça, que é a de Lily Briscoe pintando um quadro e como ela lida com um outro personagem (sem spoilers).
A obra é genial e trata sobre diversos assuntos, sendo os principais (para mim) a (i) complexidade da afetividade entre as pessoas; (ii) posição da mulher na sociedade/família; e a (iii) indiferença na qual o tempo passa com relação aos acontecimentos da vida. Eu queria muito falar sobre esse segundo assunto, mas não consegui fazer sem revelar spoilers e preferi não publicar aqui.
Eu super recomendo esse carrossel de personagens e pensamentos que é “Ao Farol”. É uma obra complexa, mas igualmente linda e cheio de significados. Vale ser lida diversas vezes.
“There is no such thing as a moral or an immoral book” – Oscar Wilde
“O retrato de Dorian Gray”, escrito por Oscar Wilde, sempre foi um clássico fascinante para mim. É um daqueles livros que “todo mundo já conhece a história”, mas que nunca se lembra como acaba. O Dorian é um personagem que ficou no imaginário coletivo, por ser complexo e parte de um enredo único (que só poderia ter sido pensado, genialmente, por Wilde).
O livro que foi condenado pela imprensa britânica há mais de 130 anos como “vulgar”, “impuro” e “venenoso” tem uma escrita linda e crítica. Wilde não mede palavras para apontar as diversas facetas da sociedade daquele período, no que tange à hipocrisia na maneira em que a classe alta vivia.
Sobre o protagonista, no decorrer da minha leitura, vi (e tive) diversas opiniões sobre Dorian Gray: inocente, culpado, vilão e incompreendido. Mas acho que a impressão que ficou é a de que Dorian é a combinação do pior de sua classe e momento histórico (livro recheado de críticas excelentes feitas por Wilde). Ele vive nos extremos (hedonista, egoísta e sedutor) e é um reflexo de tudo aquilo que os moralistas condenam e vivem ao mesmo tempo.
Dorian foi, para mim, o grande desafio que Wilde impõe na obra. Esse desafio acontece pela posição que Wilde nos coloca como a própria sociedade moralista e, até mesmo, como cúmplices do Dorian. Essa cumplicidade é a parte mais difícil, pois Dorian é uma pessoa desprezível e é muito difícil sentir alguma empatia por ele. Por isso que Dorian desafia o leitor o tempo todo… “ele era bom e se tornou mal?”, “ele sempre foi assim, era questão de tempo?” e outras diversas dúvidas chegam após a leitura do livro.
Uma coisa é certa: esses questionamentos (combinados com a escrita impecável e sedutora de Wilde) fazem o livro ser atemporal. É um livro incrível para quem gosta de explorar a questão da moralidade e até mesmo construção da personalidade de um personagem.
Que delícia começar o ano com Jane Austen! “Persuasão” foi uma leitura bastante diferente comparado com as outras obras da escritora. Foi bastante aprofundado em questões maduras, como o sentimento de solidão, arrependimento e amor até.
A obra foi parcialmente baseada na própria vida de sua autora e consegui me sentir mais próxima ainda da Jane no decorrer da leitura. Pensar que ela pode ter passado por situações parecidas com as da personagem principal fez meu coração apertar um pouco. Mas eu sei que, assim como Anne, Jane era corajosa e destemida.
O livro nos conta um pouco sobre Anne Elliot, uma mulher de 27 anos, que acaba por reencontrar o seu ex-noivo (Capitão Wentworth), agora um oficial da marinha. Eles não haviam ficado juntos pois ele foi considerado como um homem sem tradições e sem conexões familiares importantes. E Anne precisará lidar com a convivência num mesmo ambiente em que seu ex-amado kk.
Nessa leitura conseguimos acompanhar os sentimentos de Anne e o quanto ela é uma personagem acessível. Ela não é exageradamente destemida e ousada como muitas heroínas de Austen… ela é apenas a Anne. Ela é individual, complexa por si mesma e isso basta. Por isso acho que ela é a heroína mais paupável das obras de Jane Austen.
Talvez essa proximidade que criamos com Anne se dá pelo fato de Jane Austen ser a própria inspiração da personagem. Assim, sabemos como realmente uma pessoa comum agiria ou se sentiria nas situações retratadas na obra.
Indico a leitura para todo mundo! Em especial, para aqueles que já conhecem a escritora e podem valorizar essa aproximação que sentimos em “Persuasão”.
Quem nunca ouviu falar do maior detetive de todos os tempos? Duvido muito que não venha a imagem clássica de Sherlock Holmes na sua cabeça quando falamos sobre detetives.
Essa leitura foi o meu primeiro contato com o universo de Sherlock Holmes. Eu, como a grande maioria das pessoas, já tinha uma breve noção de como era Holmes e seu amigo Watson por conta da cultura popular, já que nunca assisti os filmes e séries do universo do detetive (salvo Enola Holmes, mas é uma fanfic e não conta).
Eu fiquei super ansiosa com a leitura e toda hora busquei os traços que “já conhecia” de Holmes no personagem do livro. A leitura é super fluída e o escritor faz percebemos que somos péssimos detetives (nunca teria acertado a solução do crime rs).
Eu não sou a maior fã de romances policiais, mas estou tentando mudar isso! O começo para mim foi difícil e demorei bastante tempo lendo esse livro curto. Preciso ainda de mais obras para pegar o gosto!
A Study in Scarlet (ou “Um estudo em vermelho) é o primeiro livro do universo de Sherlock Holmes e nos conta um pouco sobre o nascimento da amizade do detetive com o Dr. Watson, bem como nos mostra um caso super complexo no qual a Scotland Yard pede a ajuda de Holmes para resolver.
O livro é dividido em duas partes. A primeira é sobre a morte misteriosa de um homem sem ferimentos e cercado de manchas de sangue. Já a segunda parte nos mostra um pouco sobre a vida dos Mórmons na zona rural dos Estados Unidos e os motivos que levaram o assassino a cometer o crime.
Os primeiros e últimos capítulos são barrados pelo Dr. Watson e o mais surpreendente é que Sherlock conseguiu desvendar o crime (isso não é spoiler, né? Porque ele nunca erra) em apenas 3 dias por meio da arte da dedução.
Eu indico essa obra para todo mundo e, principalmente, para os amantes de romances policiais!
Vim aqui dividir com vocês a participação que fiz em uma live com a Jane Austen Sociedade do Brasil. Foi um prazer conversar com especialistas e dividir um pouco dos meus estudos sobre o Direito na época da Jane Austen.
Espero que vocês gostem! Caso queira acessar os vídeos específicos sobre casamento, divórcio, direito de propriedade e adoção, visite o IGTV do @livrosdelei no Instagram.
“She lives in you and in me, and in many other women who are not here to-night, for they are washing up the dishes and putting the children to bed. But she lives; for great poets do not die (…) opportunity will come and the dead poet who was Shakespeare’s sister will put on the body which she has so often laid down. Drawing her life from the lives of the unknown who were her forerunners, as her brother did before her, she will be born”.
WOOLF, Virginia. A Room of Ones Own (1929).
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A obra se inicia com o questionamento sobre o papel desempenhados pelas mulheres em obras de ficção. Todavia, este ponto segue como uma grande reflexão feminista sobre a questão da mulher na sociedade inglesa e a visão dos próprios homens sobre as mulheres.
Woolf aborda aspectos históricos e sociais na sua análise e a grande conclusão é de que uma mulher deve ter um teto só seu para poder escrever sobre ficção (“a woman must have money and a room of her own if she is to write fiction“). A partir deste ponto, a autora destrincha essa conclusão nos próximos capítulos do livro.
Historicamente, as mulheres foram deixadas a uma situação de extrema pobreza na sociedade (“One cannot think well, love well, sleep well, if one hás not dined well”). Isso se dá na medida em que elas sequer tinham direitos iguais aos dos homens. Esse ponto pode ser melhor explorado nesse vídeo que participei com a Jane Austen – Sociedade do Brasil: https://youtu.be/EpTogYkvcTw
Cumpre ressaltar que na Inglaterra, até 1882, as mulheres tinham os mesmos direitos dados durante a Idade Média. Logo, ela não tinha capacidade jurídica para firmar contratos, não poderia ter propriedades e sequer a própria guarda dos filhos menores. Todos esses direitos eram exclusivos de seus maridos. Além de não terem direito ao recebimento do próprio salário, que era destinado diretamente aos seus maridos.
Uma reflexão super interessante foi a questão das mulheres serem o foco da maioria das obras de literatura escritas por homens (“Have you any notion how many books are written about women in the course of one year? Have you any notion how many are written by men? Are you aware that you are, perhaps, the most discussed animal in the universe?”). As mulheres são vistas como divinas e deusas, mas por que não há um reflexo dessa imagem na sociedade? Principalmente em uma sociedade que as menospreza?
Woolf busca textos de outros autores para entender o que eles falavam sobre as mulheres. Uma parte que achei interessante é a análise que ela faz de livros que deixam claramente que as mulheres são biologicamente inferiores aos homens, e que muitos homens que escrevem sobre isso querem reafirmar a sua superioridade na sociedade e não realizar uma busca científica séria (“Possibly when the professor insisted a little too emphatically upon the inferiority of women, he was concerned not with their inferiority, but with his own superiority” e “If he had written dispassionately about women, had used indisputable proofs to establishment his argument and had shown no trace of wishing that the result should be one thing rather than another, one would not have been angry either”).
Nesse ponto, Woolf sinaliza que o movimento sufragista e o primeiro movimento feminista (contemporâneo de sua época) era um grande gatilho para os homens, pois faz com que eles se questionem de sua suposta superioridade. O machismo faz com que o homem mais medíocre se sinta como um rei perto de uma mulher e os homens machistas necessitam dessa inferioridade feminina para se auto-afirmarem como os homens que a sociedade espera que sejam (“Women have served all these centuries as looking-glasses possessing the magic and delicious power of reflecting the figure of man at twice its natural size” e “That is why Napoleon and Mussolini both insist so emphatically upon the inferiority of women, for if they were not inferior, they would cease to enlarge”).
Ao se questionar dos motivos pelos quais as mulheres não escreveram sobre ficção ou viraram grandes nomes da literatura, Woolf se questiona na situação em que elas viviam. Como eram propriedade de seus pais e maridos, elas nunca tiveram voz e sequer educação para tal. Woolf duvida muito que elas tinham um espaço confortável para escrever suas obras e sequer tempo, pois muitas se casavam antes dos vinte anos de idade e ainda tinham filhos.
Logo, a autora conclui que é impossível, por exemplo, existir uma escritora do mesmo nível de Shakespeare durante o período de Shakespeare. Outro ponto interessante era o quanto desencorajador era para as mulheres se tornarem artistas, o que muda apenas no século XVIII, no qual as mulheres de classe média, como Jane Austen, começaram a escrever.
Mas aí vem outro ponto: por que as mulheres escreviam romances e não poesias ou peças de teatro? Woolf entende que esse fato aconteceu pelo fato das mulheres serem interrompidas o tempo todo durante a escrita de suas obras. Logo, o que escreviam não exigiam um altíssimo grau de concentração.
Outra interessante observação de Woolf é de que Jane Austen e Emily Brontë escreviam como mulheres, sem uma cobrança em busca do “ideal masculino”. Logo, elas escreviam “como mulheres” livres em locais de fala de “mulheres”, o que é um fato revolucionário para a época.
Acredito que também não posso deixar de ressaltar como Woolf aborda a relação que as mulheres tinham umas com as outras na literatura, logo, sobre a rivalidade feminina. A escritora ressalta que existe sororidade e que a literatura seria muito mais rica se tivesse tido grande amizade entre mulheres, assim como tiveram entre os homens (“Suppose, for instance, that men were only represented in literature as the lovers of women, and were never the friends of men, soldiers, dreamers; how few parts in the plays of Shakespeare could be allotted to them; how literature would suffer!”).