Book Review: “Um Teto Todo Seu” de Virgínia Woolf

Resenhas

“She lives in you and in me, and in many other women who are not here to-night, for they are washing up the dishes and putting the children to bed. But she lives; for great poets do not die (…) opportunity will come and the dead poet who was Shakespeare’s sister will put on the body which she has so often laid down. Drawing her life from the lives of the unknown who were her forerunners, as her brother did before her, she will be born”.

WOOLF, Virginia. A Room of Ones Own (1929).

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A obra se inicia com o questionamento sobre o papel desempenhados pelas mulheres em obras de ficção. Todavia, este ponto segue como uma grande reflexão feminista sobre a questão da mulher na sociedade inglesa e a visão dos próprios homens sobre as mulheres.

Woolf aborda aspectos históricos e sociais na sua análise e a grande conclusão é de que uma mulher deve ter um teto só seu para poder escrever sobre ficção (“a woman must have money and a room of her own if she is to write fiction“). A partir deste ponto, a autora destrincha essa conclusão nos próximos capítulos do livro.

Historicamente, as mulheres foram deixadas a uma situação de extrema pobreza na sociedade (“One cannot think well, love well, sleep well, if one hás not dined well”). Isso se dá na medida em que elas sequer tinham direitos iguais aos dos homens. Esse ponto pode ser melhor explorado nesse vídeo que participei com a Jane Austen – Sociedade do Brasil: https://youtu.be/EpTogYkvcTw

Cumpre ressaltar que na Inglaterra, até 1882, as mulheres tinham os mesmos direitos dados durante a Idade Média. Logo, ela não tinha capacidade jurídica para firmar contratos, não poderia ter propriedades e sequer a própria guarda dos filhos menores. Todos esses direitos eram exclusivos de seus maridos. Além de não terem direito ao recebimento do próprio salário, que era destinado diretamente aos seus maridos.

Uma reflexão super interessante foi a questão das mulheres serem o foco da maioria das obras de literatura escritas por homens (“Have you any notion how many books are written about women in the course of one year? Have you any notion how many are written by men? Are you aware that you are, perhaps, the most discussed animal in the universe?”). As mulheres são vistas como divinas e deusas, mas por que não há um reflexo dessa imagem na sociedade? Principalmente em uma sociedade que as menospreza?

Woolf busca textos de outros autores para entender o que eles falavam sobre as mulheres. Uma parte que achei interessante é a análise que ela faz de livros que deixam claramente que as mulheres são biologicamente inferiores aos homens, e que muitos homens que escrevem sobre isso querem reafirmar a sua superioridade na sociedade e não realizar uma busca científica séria (“Possibly when the professor insisted a little too emphatically upon the inferiority of women, he was concerned not with their inferiority, but with his own superiority” e “If he had written dispassionately about women, had used indisputable proofs to establishment his argument and had shown no trace of wishing that the result should be one thing rather than another, one would not have been angry either”).

Nesse ponto, Woolf sinaliza que o movimento sufragista e o primeiro movimento feminista (contemporâneo de sua época) era um grande gatilho para os homens, pois faz com que eles se questionem de sua suposta superioridade. O machismo faz com que o homem mais medíocre se sinta como um rei perto de uma mulher e os homens machistas necessitam dessa inferioridade feminina para se auto-afirmarem como os homens que a sociedade espera que sejam (“Women have served all these centuries as looking-glasses possessing the magic and delicious power of reflecting the figure of man at twice its natural size” e “That is why Napoleon and Mussolini both insist so emphatically upon the inferiority of women, for if they were not inferior, they would cease to enlarge”).

Ao se questionar dos motivos pelos quais as mulheres não escreveram sobre ficção ou viraram grandes nomes da literatura, Woolf se questiona na situação em que elas viviam. Como eram propriedade de seus pais e maridos, elas nunca tiveram voz e sequer educação para tal. Woolf duvida muito que elas tinham um espaço confortável para escrever suas obras e sequer tempo, pois muitas se casavam antes dos vinte anos de idade e ainda tinham filhos.

Logo, a autora conclui que é impossível, por exemplo, existir uma escritora do mesmo nível de Shakespeare durante o período de Shakespeare. Outro ponto interessante era o quanto desencorajador era para as mulheres se tornarem artistas, o que muda apenas no século XVIII, no qual as mulheres de classe média, como Jane Austen, começaram a escrever.

Mas aí vem outro ponto: por que as mulheres escreviam romances e não poesias ou peças de teatro? Woolf entende que esse fato aconteceu pelo fato das mulheres serem interrompidas o tempo todo durante a escrita de suas obras. Logo, o que escreviam não exigiam um altíssimo grau de concentração.

Outra interessante observação de Woolf é de que Jane Austen e Emily Brontë escreviam como mulheres, sem uma cobrança em busca do “ideal masculino”. Logo, elas escreviam “como mulheres” livres em locais de fala de “mulheres”, o que é um fato revolucionário para a época.

Acredito que também não posso deixar de ressaltar como Woolf aborda a relação que as mulheres tinham umas com as outras na literatura, logo, sobre a rivalidade feminina. A escritora ressalta que existe sororidade e que a literatura seria muito mais rica se tivesse tido grande amizade entre mulheres, assim como tiveram entre os homens (“Suppose, for instance, that men were only represented in literature as the lovers of women, and were never the friends of men, soldiers, dreamers; how few parts in the plays of Shakespeare could be allotted to them; how literature would suffer!”).

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