Madame Bovary, de Gustave Flaubert

Resenhas

Depois de um hiato considerável, achei importante retomar as resenhas e dividir com vocês algumas das leituras mais marcantes desse tempo.

Esse clássico de Gustave Flaubert é, sem dúvida, uma obra incrível. Representa com profundidade uma fase inicial que muitas mulheres experienciam ao se descobrir romanticamente: aquela mistura de expectativa, idealização e desejo por uma vida mais intensa, mais bela, mais significativa. Emma Bovary nos guia por uma viagem que, infelizmente, se parece demais com a realidade de muitas mulheres ao redor do mundo. Uma busca por amor e liberdade que, em vez de conduzir à plenitude, revela as limitações impostas pela sociedade — e pelo próprio imaginário do amor romântico.

Madame Bovary trata de um tema universal: a frustração feminina diante de um mundo que promete felicidade no amor, mas entrega opressão e decepção. No entanto, como tantos outros clássicos, é uma obra escrita sob uma perspectiva masculina. E isso se sente. A profundidade emocional da personagem, por mais bem construída que seja, parece filtrada por um olhar externo. Aqui, confesso, senti falta da escrita de uma mulher — alguém que pudesse narrar não apenas os gestos, mas o íntimo, os silêncios e as contradições de Emma com mais generosidade.

Durante a leitura, me lembrei de algo que li sobre Karl Marx, que ao analisar estatísticas de suicídio, refletia sobre o fato de que tantas mulheres escolhiam esse fim — algo que ele relacionava diretamente às condições sociais e existenciais que lhes eram impostas. Isso não é um spoiler da obra (e honestamente nem lembro se essa temática é tratada diretamente no livro), mas quis deixar registrado aqui. Porque Madame Bovary é também um retrato de solidão, de ilusões destruídas, e do peso que é colocado sobre os ombros femininos quando lhes vendem o amor como uma promessa  quando na verdade, é só mais uma relação humana, com todas as suas falhas, jogos de poder e ilusões.

É um livro que prende do começo ao fim. O ritmo, a escrita e a construção das cenas são envolventes e te puxam para dentro da vida de Emma, mesmo que o destino dela seja, muitas vezes, cruel.

Amizade Literária: “O conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas

Resenhas

Uma amizade que começa em meio ao desespero e na solidão. Quando os olhos se acostumam com o escuro e até mesmo a sua própria voz assusta… Foi nesse contexto que surge o meu personagem predileto da obra “O Conde de Monte Cristo”.

O abade Faria foi um personagem que instigou a minha criatividade e que ainda me faz sentir emocionada ao lembrar de sua trajetória no livro. Toda vez que ele aparecia (ou era mencionado), as lágrimas de emoção e admiração surgiam nos meus olhos… precisei ler 2x (pelo menos) toda vez que ele apareceu no livro.

Ele é uma figura que levarei comigo para a vida. Ele é um gênio e sinto como se fosse alguém que eu tivesse conhecido no trabalho ou na roda de amigos. Sinto um carinho muito grande por ele e me encanta saber que ele foi baseado em uma pessoa real: o nome do moço era Abade Torri.

Me peguei imaginando várias possibilidades para ele dentro do universo do livro, então a sensação de “e se…?” foi a minha companheira nessa leitura. Acho inevitável não imagina-lo em diversas situações… até porque ele foi decisivo no livro. 

Assim como no livro, para mim, ele é a luz que aparece no escuro da solidão e da tristeza. “Luz” tanto no sentido iluminista, pois é a razão que nos coloca no chão, quanto de conforto em um ambiente escuro e hostil.

Queria muito me estender e falar sobre cada ponto que admiro nele… mas vou apenas recomendar que leiam a obra-prima que é “O conde de Monte Cristo” e espero que se encantem com o personagem assim como eu ❤️

Book Review: “O corcunda de Notre-Dame” de Victor Hugo

Resenhas

Antes de ler a resenha, peço que esqueça TUDO o que sabe sobre o corcunda do filme da Disney. O Quasímodo, nome do corcunda sineiro da Catedral de Notre-Dame, é completamente mais real e adequado para o seu mundo.

Como esperar bondade e amor de quem sempre ganhou risadas e maus tratos? Como esperar carinho de quem só levou tapada em uma sociedade medieval? Aqui nós precisamos colocar nossos pés no chão e entender esse personagem complexo de Victor Hugo. O corcunda é tão genial que conseguiu encontrar amor em um ambiente sem esperança tomado pelo terrorismo de Estado e religioso.

O retrato de uma Paris medieval é PERFEITO. Não tem outra palavra para descrever, pois Victor Hugo estudou tudo com muito detalhe e carinho. Você se sente no período por causa da descrição perfeita do cenário da obra e também pelos institutos da época.

A obra gira em torno de alguns personagens centrais. Tudo começa com Frollo, o padre, que resgata Quasímodo do abandono quando criança. Em um belo dia, o padre e o corcunda acabam conhecendo uma jovem cigana chamada Esmeralda – e aí que o negócio pega! Porque Esmeralda acaba encantando todo mundo e fazendo que ocorra diversas reviravoltas na vida de todos os personagens da obra (sem exceções).

A obra veio em um período que se pensava em derrubar a catedral. Victor Hugo, bastante preocupado, escreveu a obra como uma forma de preservá-la: mostrando o quanto ela é interessante, importante e deixava de lado. Muitos acham que o corcunda é a própria representação do que pensavam da catedral na época, como algo estranho e feio.

Na minha opinião de leitora, o protagonista da obra é Esmeralda. Ela quem faz os altos e baixos da obra, sendo heroína e vítima. Ela é um ícone de resistência em Paris: mulher, criada por ciganos (egípcios, como falavam na época) e trabalhadora das ruas.

Book Review: “A Volta ao Mundo em 80 Dias” de Jules Verne

Resenhas

“Why, you are a man of heart!” “Sometimes,” replied Phileas Fogg, quietly; “when I have time”.

VERNE, Jules. Four Novels. Canterbury Publishing House. Page 595.

“A volta ao mundo em 80 dias” foi o meu primeiro contato com as obras de Jules Verne e eu achei bastante interessante. É um livro de aventura bastante engraçado e matemático.

Eu odeio matemática (por isso virei advogada haha), mas ela foi um elemento essencial nesse livro e fez tudo parecer bem mais interessante (por incrível que pareça!).

A obra nos conta um pouco quando o monótomo Sr. Phileas Fogg, um homem inglês solitário, rico e altamente calculista, decide apostar com seus amigos do Reform Club que conseguiria dar a volta ao mundo em 80 dias por conta dos avanços tecnológicos da época. Tal assunto surge por conta de um roubo de £ 55.000,00 que ocorreu no Banco da Inglaterra, no qual o ladrão fugiu seu deixar rastros. Phileas acredita que o ladrão pode estar em qualquer lugar.

Ele e seus amigos travam uma aposta de £ 20.000,00 sendo que Phileas deve estar de volta ao Reform Club no dia 21 de dezembro de 1872. Sendo assim, Phileas parte o mais rápido possível para a viagem com o seu criado Jean Passepartout, um jovem francês recém contratado. O trajeto da viagem é o seguinte:

(1) De Londres – Para Suez (paquete e caminho-de-ferro) 7 dias / (2) De Suez – Para Bombaim (paquete) 13 dias / (3) De Bombaim – Para Calcutá (caminho-de-ferro) 3 dias / (4) De Calcutá – Para Hong Kong (paquete) 13 dias / (5) De Hong Kong – Para Yokohama (paquete) 6 dias / (6) De Yokohama – Para São Francisco (paquete) 22 dias / (7) De São Francisco – Para Nova Iorque (caminho-de-ferro) 7 dias / (8) De Nova Iorque – Para Londres (paquete e caminho-de-ferro) 9 dias.

Toda a viagem fica famosa e a Inglaterra inteira começa a torcer pelo Phileas. Todavia, durante o percurso, o detetive Fix suspeita que Phileas praticou o roubo e está de fato fugindo ao redor do mundo. Sendo assim, o detetive segue o inglês durante toda a viagem ao redor do mundo e tornou o livro ainda mais engraçado. Jean é super tonto e acaba fazendo amizade com o detetive e relevando segredos sobre seu chefe.

Não vou contar o fim do livro, pois ele é super emocionante e cheio de aventuras. O que mais gostei foi a oportunidade de descobrir mais sobre o Império Britânico e as peculiaridades das cidades nas quais eles viajaram, obviamente sob uma perspectiva eurocêntrica.