“O Sol mais Brilhante”, Maternidade e Meio Ambiente

Resenhas

“Adia suspirou e se virou para olhar em frente, na direção de Nairóbi. Queria ser como a zebra, levar sua casa com ela, onde quer que fosse, nos próprios poros da pele”.

BENSON, Adrienne. “O Sol mais Brilhante” / Adrienne Benson; tradução Elisa Nazarian – 1 ed. – Rio de Janeiro: Harper Collins, 2020. Página 292.

Hoje preparei uma resenha um pouco diferente para vocês. Como eu já havia dito na página do Instagram (@livrosdelei), o livro “O Sol mais Brilhante” da Adrienne Benson trata sobre dois assuntos muito pertinentes e que impactam diretamente a vida das mulheres: maternidade e meio ambiente.

Aqui falaremos em uma visão geral da obra, sem caracterizar todos os personagens. Caso busque uma visão geral, acesse: https://www.instagram.com/livrosdelei

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  1. Maternidade

A questão da maternidade é muito clara durante o livro todo, pois experimentamos “o que é ser mãe” na perspectiva de quatro mulheres: Jane, Simi, Ruthie e Leona. Todas fazem o seu melhor para serem “as melhores mães” que conseguem, mas são impedidas por diversos fatores. Acredito que essa seja uma perspectiva mais real do que é ser mãe.

Jane é vista como uma boa mãe, mas assombrada pela possibilidade de sua filha ter o diagnóstico de esquizofrenia aguda, assim como o seu irmão teve. Ruthie é mãe de John, pai biológico de Aida, e que enfrenta um grande trauma após a morte de um dos seus filhos, além de sofrer com a doença de Alzheimer.

Simi é uma mulher massai que não consegue ter filhos biológicos, mas tem como maior sonho ser mãe e “adota” Aida, filha biológica de Leona com John. A mãe de Simi, uma figura importante e que molda a personagem, foi uma mulher visionária e que sempre lutou pela educação de sua filha. Infelizmente, devido ao marido violento e que gastava o dinheiro com bebida, ela não conseguiu manter Simi nos estudos. A saída de Simi da escola é parte essencial da pessoa que ela se torna na comunidade quando adulta.

Leona é uma mulher com muitos traumas e problemas sociais devido ao abuso infantil que enfrentou na infância. Tais abusos eram cometidos por seu pai e conhecidos pela sua mãe, o que deixa Leona ainda mais angustiada. O interessante é que conhecemos mais uma perspectiva de maternidade: a própria mãe de Leona se reconhece como uma “mãe ruim” e diz que é reflexo de sua mãe (avó de Leona). Logo, um fluxo de mães/pais ruins que se perpetuou na família.

Assim, como podemos ver, existem vários tipos de maternidade e que são bastante diferentes entre si. Cada tipo com suas inseguranças e realidades próprias. Acredito que essa perspectiva é importante para refletirmos sobre a romantização da maternidade, imposta pela sociedade na vida das mulheres.

2. Meio Ambiente

A questão do meio ambiente foi apresentada de maneira mais sutil, mas impacta a realidade das personagens de maneira econômica e social, em especial na percepção do que é “casa”.

O impacto econômico é muito evidente, pois ele afeta diretamente os Massai e a própria fazenda de Ruthie. De acordo com o próprio livro, sobre a fazenda de Ruthie: “tiveram dois anos de chuvas normais, e depois diversas estações secas como ossos. Estavam condenados desde o começo naquela fazenda; o tempo nunca votou a se estabelecer nos padrões dos quais eles dependiam” (p. 136).

Ainda, é possível ter uma visão geral do que estava ocorrendo no país naquele momento: “as coisas ainda estavam muito ruins, a terra continuava seca e os animais continuavam famintos, mas não havia mais para onde irem, as terras férteis se encolhiam e as terras secas cresciam” (p. 307) e “a seca tinha se estendido por muito tempo, as pessoas diziam. Agora, estava entranhada no Quênia. A população estava faminta. Os animais estavam morrendo. Os shambas, os cultivos familiares dos quais as pessoas dependiam, não passavam de pedras e poeira e, quando a chuva realmente veio, caiu rápido e com força demais para ser absorvida pelo solo nu. Não havia plantas que se agarrassem à água, que a ajudassem a se infiltrar na terra; assim, ela escorreu para longe, sem deixar nada além de rocha vulcânica e calcário, o baixo-ventre da terra, que não podia cultivar nada substancioso” (p. 207).

Outro ponto interessante é a relação que as pessoas possuem com os animais. É muito claro que as hienas são um grande perigo para as pessoas tanto em fazendas quanto em vilarejos originários. Há um medo frequente de crianças serem comidas pelas hienas, fazendo com que as mães até sonhem com o som das risadas do animal.

Todavia, em contraste, os Massai, como povo nômade, sabem exatamente como lidar com grandes felinos e outros animais. Eles e os animais vivem em harmonia na sua comunidade. Tanto que Aida, ao se deparar com um felino grande nos Estados Unidos, sabe exatamente como agir e analisar o animal.

Precisamos notar também a relação que a população tem com o consumo de carne, como é evidenciado na perspectiva de Jane: “a morte no Quênia – na verdade, em toda a África – é comum. Após anos no continente, Jane sabia disso. O gado é levado até o açougueiro e, sem preâmbulos, bem na calçada em frente ao açougue, o pescoço do animal é cortado e a carcaça é pendurada de cabeça para baixo, para que o sangue escorra. Fazer compras em feiras significa caminhar em um chão escorregadio de sangue, por corredores e corredores de cabeças decepadas e corpos sem cabeça, enfileirados em mesas, com moscas lambendo, laconicamente, os olhos vazios e vidrados dos animais mortos” (p. 267).

A natureza também está diretamente ligada com os sentimentos das personagens. Jane faz uma comparação mental linda entre o seu desenvolvimento pessoal e a jardinagem: “levava tempo, ela sabia, para arrancar todas as pragas e preparar o solo. A jardinagem era um processo; era preciso dar um passo de cada vez. Como na gravidez, pensou ou no luto. Poderia levar muito tempo, mas ela faria o jardim florescer” (p. 282).

E Aida faz observações interessantes sobre as diferenças entre o meio ambiente queniano e o estadunidense: “no seu país, a luz envolvia você como uma folha de palmeira. Mantinha-a próxima, mas era dócil. Você podia passar por ela, puxá-la à sua volta e considerá-la um aconchego. Aquela luz nova, aquela luz americana, não olhava para as pessoas que iluminava. Não se movia como a luz queniana, que sempre mudava e se alterava como algo vivo” (p. 295).

Para concluir as percepções ambientais, acho importante destacar a religiosidade. No caso de Simi, ela fez oferendas à uma árvore antiga e bastante popular em sua região. Ela acredita que existe uma relação entre seus deuses e a natureza de maneira bastante direta.

Esse livro é super interessante e indico para todos que buscam uma história maternal e bastante emocionante. Não é um livro que te deixará alegre ou fará rir, mas é uma leitura necessária para entender uma cultura diferente e questões como maternidade.

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