Book Review: “A Máquina do Ódio” de Patrícia Campos Mello

Resenhas

“Cobri o conflito na Líbia em Sirte, no front contra o Estado Islâmico. Fiz coberturas da guerra na Síria, no Iraque e no Afeganistão. Nunca tive guarda-costas. Estava em São Paulo, e precisava de segurança”

CAMPOS MELLO, Patrícia. A máquina do ódio. Editora Schwarcz. São Paulo, 2020.

Para quem não conhece, a Patrícia Campos Mello é uma jornalista brasileira colunista da Folha de S. Paulo e recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, em especial por seu trabalho como jornalista correspondente em áreas de conflito como Síria e Serra Leoa.

Patrícia explora alguns pontos muito interessantes em “A máquina do ódio” como o linchamento que sofreu pelo Presidente da República e seus familiares, o impacto das mídias sociais nas eleições presidenciais, as novas formas de censura aos jornalistas, a ascensão de populistas no mundo e como o Presidente se utiliza de técnicas do Viktor Orbán, líder da Hungria. O livro termina com uma reflexão muito boa para o jornalismo: “será que uma pandemia pode salvar o jornalismo?”

Caso queira comprar o livro: A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital

Primeiramente, é interessante pensarmos que, de acordo com dados levantados no livro, 60% dos brasileiros usam o WhatsApp e muitos se informam pelo aplicativo. Tendo isso em vista, a nova versão de totalitarismo, a fim de alienar a população e criar uma ilusão de apoio ao líder totalitário, enche as redes sociais com a versão dos fatos que se quer emplacar. Tal técnica é muito forte, pois é (muitas vezes) o primeiro contato que o cidadão terá com a notícia e essa primeira impressão é muito difícil de ser desfeita.

Achei interessante o termo “tecnopopulista” para os líderes populistas que se utilizam das redes sociais de maneira abusiva, isto é, por meio do astroturfing. É igualmente curioso o fato das pessoas confiarem mais nas teorias conspiratórias do que em especialistas.

A jornalista também conta detalhes do caso dos disparos em massa de desinformação (vulgo “fake news” e que é uma atitude proibida pelo Tribunal Superior Eleitoral desde 2019). Ela informa que existem empresas que vendem o cadastro com milhões de números de celular atrelados a CPFs, títulos de eleitor e o perfil social e econômico das pessoas (a maioria deles eram idosos). Nesse ponto, é extremamente necessário pensarmos como devemos cuidar de um dos nossos bens mais preciosos: nossos dados.

Ao denunciar o esquema descrito acima, Patrícia sofreu diversos ataques por fanáticos do Presidente. Ela evidencia o machismo que existe, pois ninguém criticaria um jornalista homem da mesma maneira que ela foi criticada e julgada. Um homem a difamou em uma CPMI por ele ter levado um belo pé na bunda (mulheres, quem mais já viu uma cena parecida?).

Nesse ponto, ela trata do linchamento virtual, que faz com que muitos jornalistas se silenciem com medo das violentas represálias.

Outro assunto é como o governo brasileiro é um governo da “pós-verdade”, que valoriza versões em detrimento de fatos. Essa parte me lembrou muito do livro “O povo contra a democracia” do Yascha Mounk, pois o lider populista antiliberal precisa ser a fonte da verdade absoluta para o seu povo. O jornalismo e a mídia tradicional atrapalha esse objetivo ao questionar as ações do líder populista. Assim como Maduro, o Presidente brasileiro toma decisões contra os jornalistas e mantém uma postura violenta frente à eles.

Por fim, ressalto que o jornalismo, assim como a advocacia, é uma profissão de países democráticos. O direito à informação é basilar do Estado Democrático de Direito e precisamos defendê-lo com unhas e dentes. Precisamos criar um senso crítico das ações feitas pelos líderes populistas para não cairmos em uma cilada como esse novo formato de totalitarismo.

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